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Acidente na estrada -- Capítulo 4 -- Érebus.




Ainda no estacionamento do Top shopping Ângelo e Diana caminharam até o carro dele que estava estacionado na segunda garagem superior. O shopping era composto de três pisos destinados às lojas e outros dois pavimentos destinados para estacionamentos; a primeira garagem era identificada pelo código G1, “Garagem 1”, e era coberta principalmente por causa das máquinas de caixas eletrônicos e serviços bancários 24h e também pelas pequenas lojas de peças automotivas, de áudio e vídeo, chaveiros e máquinas de xérox; Já o segundo pavimento era identificado pelo código G2, “Garagem 2”, ficava totalmente exposta ao tempo e não oferecia nada a não ser uma das vistas mais espetaculares que se pode ter da cidade, o que para algumas pessoas já era o suficiente para compensar a falta de proteção a qual os automóveis ficavam expostos.
Subiram pela escada rolante desde o terceiro piso, onde haviam lanchado, até chegar ao primeiro estacionamento, G1; e antes de subirem novamente para o outro eles pararam em um dos caixas eletrônicos onde Ângelo sacou uma pequena quantia de sua conta corrente, gostava de sempre ter algum dinheiro trocado na carteira para o caso de qualquer imprevisto, além do mais, a tarde de passeio e presentes com sua bela namorada tinha custado um bom dinheiro para ambos.
Em seguida tomaram uma nova escada, sendo que esta era comum e não automatizada como as demais, e saíram no mais alto pavimento de estacionamentos, G2.
Caminharam pelas fileiras criadas por carros de todos os modelos, marcas e cores parados uns atrás dos outros e antes de irem até o carro dele, foram primeiro para a amurada do lugar, lá, se debruçaram por apenas uns segundos e contemplaram a vista que combinava um céu que estava se apagando no fim de tarde com as luzes da cidade que estavam se acendendo no início da noite. Foi uma bela visão, mas ambos ficaram calados enquanto aproveitavam aquele momento.
_ É tão bonito aqui._ Ela disse. O namorado ficou calado por todo tempo em que ficaram ali contemplando o local.
Finalmente rumaram para o lugar onde antes Ângelo tinha deixado o veículo estacionado.
Estavam de mãos dadas, mas sem conversar, Diana sabia que algo estava incomodando muito o namorado e permanecia tentando traçar a melhor estratégia de penetrar na barreira que ele tinha levantado, mas sem ser agressiva demais ou desrespeitosa com o que quer que fosse que ele estava sentindo. Algumas vezes ela o tinha visto numa espécie de tristeza quando era elogiado por alguém nas ruas, mas naquela tarde no shopping ele tinha deixado à mostra muito mais do que uma simples tristeza passageira; Diana sabia que havia algo profundo que o namorado escondia; nunca se preocupou com aquilo, porque sempre vira que ele também não se preocupava, mas naquela tarde notou que de alguma forma, os segredos que ele guardava o estavam influenciando negativamente, ou seja, Ângelo estava se fechando cada vez mais e fazendo uma grande força para que ela não percebesse. O que seria difícil, primeiro porque Diana era muito perspicaz, percebia mínimas mudanças de comportamento nas pessoas; e segundo porque ele estava completamente introspectivo, algo que não era comum para ele.
_ Você está bem?_ perguntou ela.
Ele parecia desligado, mas num sobressalto respondeu:
_Estou sim.
_ Parece diferente.
_ Só um pouco cansado, talvez.
Ela o olhava lendo todos os sinais que ele dava de que algo o estava incomodando profundamente, já se conheciam muito bem e Diana tinha uma prática ainda maior em identificar as linguagens não verbais de todas as pessoas mais próximas a ela. Com Ângelo não era diferente, ela sabia que ele estava pensando se deveria ou não falar algo, e pelo jeito como estava se comportando devia ser algo bastante importante.
_ Tem alguma coisa te incomodando?
A resposta dele não foi clara, na verdade foi como uma espécie de sussurro, ela não entendeu, mas tentou ponderar a respeito.
Ângelo retirou a chave do bolso e acionou o botão que destravava as portas do seu carro, um Peugeot 207 duas portas, preto, ano 2009; o veículo deu sinal emitindo dois apitos rápidos e piscando as luzes das lanternas; a namorada trazia as sacolas com os dois pares de calçados e a bolsa que tinha comprado, além da caneta tinteiro e do relógio que tinham colocado nos mesmos pacotes. Ele abriu a porta e entrou, ela fez o mesmo em seguida pelo lado do carona.
_ Você está muito estranho hoje._ Insistiu Diana.
Ela se virou e colocou as bolsas no banco traseiro do carro, bateu a porta e abaixou o vidro elétrico da janela com um simples toque num botão apropriado.
_Desculpe.
Ele colocou a chave na ignição e ligou o veículo; o carro respondeu imediatamente. Ele deu marcha à ré; havia uma fila de carros estacionados à frente do seu e ele saiu manobrando de ré até atingir o espaço que estava livre para tomar a rampa de descida que levava ao primeiro piso de estacionamentos onde um funcionário do shopping liberou a saída do carro.
_Sabe?_ Disse Ângelo enquanto girava o volante para tomar a rua atrás do shopping; rua que levaria a uma grande ladeira que por sua vez desembocaria na avenida principal.
_Sabe o quê?_ Rebateu ela._ O olhar de Diana estava perdido propositalmente em algum lugar entre o vidro dianteiro do veículo e o seu horizonte visual.
Ela fazia isso para fingir estar dando pouca atenção ao que ele ia dizer, de modo que fosse o que fosse, pudesse parecer corriqueiro. Talvez desta forma o deixasse mais à vontade para se abrir.
Ângelo continuou falando:
_ Eu estava pensando.
_ Em quê?
A luz da tarde já havia quase totalmente saído de cena, e a iluminação artificial dos postes públicos começava a fazer seu trabalho. O carro desceu a rua em ladeira ao lado do shopping e chegou à rua principal. O edifício grande onde o shopping estava localizado ficava à direita e àquela hora o movimento ali era consideravelmente mais tumultuado do que na rua secundária de ladeira por onde tinha passado, tanto de veículos como de pedestres.
_ Têm algo que eu quero falar para você, mas não sei como.
Diana ligou o rádio, baixou o volume e abriu o porta-luvas, eles deixavam alguns CDs ali, CDs que continham músicas que ambos gostavam; desde Phil Collins até Frejat, Capital inicial e Legião Urbana; até U2 e Enya também, ambos tinham um gosto muito variado para música e aquilo os completava como casal, davam valor não somente às letras, mas também a toda a sonoridade empregada na construção musical. As músicas eram compradas em sites onde podia se pagar para baixar o arquivo digital MP3 de forma legal e depois gravavam nos CDs formando uma grande coleção musical particular. Muito embora Diana preferisse manter todos os arquivos numa “Pen Drive”.
Ela passou a procurar um sem nenhuma intenção real de querer ouvi-lo, mas ainda se esforçava para passar um ar de casualidade; estava mesmo interessada no que ele tinha para dizer; provavelmente não seria nada realmente sério, mas Ângelo demonstrava um pouco de teatralidade às vezes, ele não fazia por mal.
_ É só dizer.
O carro tinha seguido pela rua principal onde ficam localizados o cemitério e a prefeitura de Nova Iguaçu, mas ele seguiu na direção do fluxo que é contrário e se afasta desses dois lugares. Saíram na Avenida Governador Roberto Silveira, praticamente de frente para outro shopping, só que este era apenas de artigos de informática. Promo Info.
Contornaram à esquerda na direção da Via Light.
_ É um pouco complicado. Não. Na verdade é bem complicado.
Ela finalmente parou de fingir que estava procurando um CD que nunca achava e olhou para ele, Ângelo permanecia com os olhos fixos na rua em frente e no trânsito parcialmente concorrido por outros veículos.
Ela disse:
_ Se você não disser; como é que espera que eu saiba do que se trata?
Ele balançou a cabeça.
_ É muito sério.
O semáforo estava com a luz vermelha acesa e uma contagem regressiva na pequena tela ao lado indicava quantos segundos ainda faltavam para a luz verde surgir.
Logo que parou o carro atrás de outro e enquanto aguardava a abertura do sinal, ele virou-se para a namorada.
_O que você diria se eu contasse que escondo um segredo?
_Hipoteticamente?_ perguntou Diana.
_ Por enquanto sim. Hipoteticamente.
_ Que tipo de segredo?
_ Do tipo que é capaz de mudar uma vida.
_Desde quando você esconde esse suposto segredo?
_ Desde criança, eu acho. Não sei bem._ Falou tentando recordar se de fato era isso mesmo, não tinha certeza.
Ela soltou um sorriso antes de falar:
_ Eu diria_ pensou em alguma coisa para dizer mais não achou nada naquele momento._ Diria que não deve ser nada sério.
_ Você está brincando comigo, Diana? Estou tentando me abrir.
_ O sinal abriu._ ela disse. Já havia automóveis buzinando atrás deles como se fizesse um século que o semáforo deixara a cor vermelha.
O semáforo ostentava a luz verde e o carro que antes estava parado em frente ao deles já estava longe, na subida do viaduto próximo da rodoviária.
Ângelo acelerou e seguiu pela Via Light no sentido Mesquita, Nilópolis e Pavuna, mas não ia tão longe assim; pretendia deixar Diana em casa no município de Mesquita e retornar para casa a tempo de ver alguma coisa na televisão. Ou algum filme em DVD caso a programação não estivesse boa.
_Desculpe_ ela tentou se justificar_ Você não está sendo convincente com essa história de segredo. Todo mundo conhece você e não há nada escondido em sua vida que não seja semelhante ao que está escondido na vida da maioria das pessoas. Sabe o que quero dizer, coisas triviais.
_ O que você quer dizer com isso?_ foi ele quem perguntou desta vez.
_ Sei lá. Todo mundo já escondeu multas de trânsito, notas baixas na época que estudava, algumas mentiras sem importância, um livro que tomou emprestado e nunca devolveu; e até alguns sentimentos mais embaraçosos; sei lá, essas coisas.
Ângelo já estava se perguntando se realmente era uma boa idéia continuar com aquilo. E decepcionado resolveu encerrar o assunto:
_Tudo bem; deixa pra lá.
Vendo que ele havia se retraído, Diana ficou quieta um minuto e suspirando pediu que ele continuasse.
_ Fale. O que você tem para me dizer?
Ele ponderou rapidamente e decidiu tentar mais uma vez:
_Diana, isso é muito sério, preciso falar com alguém e gostaria que fosse com você.
Diana mordeu o canto do lábio inferior e olhou para ele que continuava de olhos na rua, havia mais um semáforo vermelho à frente.
A luz do fim de tarde não existia mais, o crepúsculo esmaeceu até se tornar noite.
_ Tudo bem, vou tentar novamente.
_Sobre o que é? Quero dizer; é sobre nós?_ Por um curto momento ela teve a sensação de que podia ser algo referente ao relacionamento deles e aquilo a deixou momentaneamente inquieta.
_ Não é sobre nós; é sobre mim.
_ Você está doente?
_Diana! Por favor!
_Desculpe. Pode falar.
O carro parou no sinal vermelho e ele finalmente olhou para ela; foi um olhar solene, o mais solene que ele já lançou sobre a namorada em todos os meses que conviviam juntos. Aquele olhar foi o suficiente para ela perceber a seriedade do que seria dito. A face de Ângelo demonstrava uma gravidade que ela ainda não tinha visto nele, nunca tinha visto aquele rosto tão preocupado.
_Você está me assustando.
Ele desligou o rádio que mantinha um volume tão baixo que mal podiam ouvir coisa alguma do que estava tocando, mas não queria interrupções ou distrações por mais tênues que fossem.
O sinal abriu, estavam no centro nervoso do município, mas curiosamente poucas pessoas transitavam pelas calçadas e a maioria estava aguardando os ônibus que paravam constantemente ao longo da via. O Peugeot arrancou novamente logo que a luz vermelha sumiu.
_ Sabe por que eu fui até o parque de diversões sozinho naquele dia?
Ela não podia imaginar o motivo, mas também não importava. Passara muito tempo se perguntando isso logo que toda a coisa explodiu nas mídias, mas não era relevante quase seis meses depois.
_ Não sei. Por quê?
_ Eu sabia.
Ela esperou um minuto inteiro pensando que ele ia completar a frase, mas ele não o fez.
_Você sabia o quê?
Foi Ângelo quem suspirou antes de continuar, estava fazendo força para vencer as barreiras que ele mesmo levantara para sua segurança.
_ Sabia o que estava para acontecer.
_ Como assim?
_ Eu sabia que a roda gigante ia travar, sabia que uma pessoa ia se machucar terrivelmente, sabia que a multidão ia entrar em pânico, que linchariam o funcionário que operava a máquina; eu sabia de tudo. E tinha de fazer algo para impedir.
Ele esperou por um comentário cético da namorada ou por uma de suas tiradas cômicas, mas nem o comentário nem a piada vieram e ele ficou ainda mais nervoso por isso. Não sabia o que esperar.
Diana olhava para ele como se a pessoa sentada ao seu lado não fosse um homem mais sim uma coisa qualquer inanimada. Ela piscou uma vez, demoradamente, e depois outra, talvez estivesse procurando o que dizer.
Ele dirigia e olhava para ela, ora olhava a rua e ora olhava para a namorada, estava impaciente e queria saber que reação ela teria; nunca tinha falado tão sério na vida. Mas vendo que a resposta dela não vinha, ele continuou despejando tudo o que estava engasgado na garganta até aquele momento.
_ Ninguém sabe disso; meus pais não sabem disso, nenhum colega sabe disso, a família da pequena Ingrid não sabe disso, nem meu antigo diário sabe disso. Só eu e Deus. Ninguém mais; entendeu.
Ela continuou olhando, parecia não saber se ia rir ou se ia fazer alguma pergunta que desse o entender de que ela tinha se interessado por aquilo, na verdade não sabia como classificar aquela pseudo-revelação. Ele continuou falando:
_Eu soube no dia o que ia acontecer, fiquei desesperado, corri para o parque e fiquei vagando lá até descobrir tudo.
Sem saber o que dizer, e ainda considerando que tudo aquilo não passava de uma brincadeira dele. Diana finalmente falou:
_ Você sabia que ia salvar uma criança naquele dia?_ perguntou procurando manter um tom solene na voz.
_ Não. Não que seria uma criança, mas sabia que era para eu estar lá; sabia que alguém precisaria ser salvo.
_Como?
_ Às vezes eu sei de coisas. Coisas que vão acontecer. Coisas que já aconteceram ou que poderão e poderiam acontecer.
_ Você está brincando Ângelo. Ninguém sabe de coisas dessa magnitude. Você está dizendo que sabia o futuro?
_ Eu às vezes sei Quero dizer, não sei se é o futuro. _Ele disse. Ela estava olhando para ele, e quando as últimas palavras foram ditas Diana viu o semblante dele decair com uma tristeza ainda maior do que a que tinha demonstrado antes._ Eu apenas sei. É como se meus pensamentos se tornassem verdade de repente, como se eles tivessem o poder de sair da minha cabeça e se materializar._ sussurrou.
_ Você está querendo dizer que sabia antecipadamente que uma tragédia ia acontecer no parque; é isso?
_É._ Ele a fuzilou com o olhar, mas estava em busca de aceitação e aprovação. Voltou a olhar para a estrada.
_ Mais que brincadeira e essa Ângelo?
_ Não é brincadeira Diana, você tem que acreditar em mim. Eu ouço uma voz e às vezes ela me diz essas coisas.
_ Que voz?
_ Não sei; às vezes acho que é minha própria voz, outras vezes acho que é uma voz desconhecida.
Diana se calou novamente até resolver o que falar, ficou confusa, sem saber como uma pessoa tão centrada como Ângelo podia dizer uma bobagem tão grande.
Ele balbuciou:
_ É verdade._ Falou mais para si mesmo do que para a namorada.
Um carro passou muito perto deles e se atirou na frente do veículo onde estavam de uma maneira totalmente imprudente; o motorista, obviamente, estava costurando os carros pela rua e transitando muito acima do limite de velocidade da via que era de 60 km/h naquele trecho. Ângelo freou drasticamente, mas não chegou a parar, apenas reduziu e com um pouco de perícia afastou o carro do outro que seguiu apressado; em seguida olhou no retrovisor para verificar se outro carro tão precipitado quanto aquele não estava colado em sua traseira. Tudo o que ele não queria era provocar ou ser vítima de um acidente na estrada, mas estava prestes a descobri que ia se envolver em um de qualquer jeito, só que de uma maneira diferente.
_ Esse pessoal não aprende nunca_ disse reclamando da barbeiragem do outro._ Só ficam satisfeitos quando causam um acid...
Ele se interrompeu, ficou mudo, olhou novamente no retrovisor e em seguida numa atitude suspeita que Diana não percebeu; ele verificou o cinto de segurança;queria ver se estava bem travado.
_Acidente._ disse ela, completando a frase.
_Como você sabe!?
_Sabe o quê, Ângelo. Eu só estou completando o que você ia dizer.
Ele começou a reduzir a velocidade e encostar o veículo no calçamento.
_Você também ouviu?_ perguntou assustado.
_ Por que está parando aqui?
_Você não ouviu?_ Ângelo perguntou outra vez.
_ Ouviu o quê?
_ A voz.
Diana conhecia o namorado muito bem, mas não compreendia mais uma só palavra do que ele estava dizendo e aquilo estava começando a perder a graça.
_ Que voz?
Ele soltou o volante por alguns instantes e pôs as mãos sobre os ouvidos. Disse:
_ Pareceu um trovão.
Diana olhou pela janela, o céu estava limpo como um espelho d’água num lago cristalino, não havia uma nuvem sequer, a noite seria quente, aparentemente sem vento e não tinha escutado trovão algum.
_Não ouvi nada.
Ângelo já tinha parado o carro, subiu no acostamento de modo que o Peugeot ficou com as duas rodas do lado direito sobre o acostamento e as outras duas ainda na via, o carro ficou levemente inclinado. Ele soltou o cinto de segurança e abriu a porta, saiu do carro olhando ao redor, procurando alguma coisa.
_ O que foi que houve Ângelo?_ Diana queria saber o motivo de terem parado naquele ponto sem mais nem menos.
Ele não respondeu, andou de um lado para outro e parou de repente.
_ Vai acontecer outra vez._disse finalmente.
_ O quê? O que vai acontecer?_ Ela falou de dentro do carro.
Ele olhou para um dos postes de iluminação que estava próximo do lugar onde ele parou o carro; do outro lado da via estava outro poste sobre a calçada, tão alto quanto os demais e derramando sua luz sobre o asfalto da pista e acostamento. A cerca de trinta ou quarenta metros adiante havia mais dois postes um de cada lado da via e assim seguia, sempre de dois em dois. Ângelo sabia que o poste também era parte do quebra-cabeças daquela noite, mas ainda não tinha tantas informações para descobrir com precisão o que ia acontecer.
_Você sabia o que ia acontecer no parque?!_ Ângelo estava tão afastado do carro que Diana teve de gritar para ele ouvir.
_Sabia._ respondeu também forçando a voz com mais força._ em seguida ele colocou as mãos sobre as orelhas, tapando-as como se estivesse ouvindo um som extremamente alto e olhou para o céu.
Diana viu e olhou para cima pela janela também, num reflexo que não soube explicar, pensou que se olhasse para o céu noturno e estrelado veria algum objeto sobrevoando suas cabeças, alguma coisa como uma gigantesca nave extraterrestre vinda de fora do sistema solar e que iria aduzi-los ali mesmo; mas não havia nada lá; absolutamente nada. O céu continuava limpo, estrelado e bonito como antes.
Ele voltou rápido para o carro e aproximou-se da janela onde a namorada aguardava atônita e sem entender absolutamente nada.
_ Está diferente_ ele disse._ Geralmente não é assim.
_ O que está diferente_ ela mal podia acreditar que estava perguntando sobre alguma coisa que só existia na cabeça dele, pensou que o namorado talvez estivesse sofrendo de alguma esquizofrenia passageira, ou qualquer tipo de delírio urbano estranho. Mas aquilo não era comum a Ângelo, ele não era dado a esse tipo de coisa, nunca conhecera uma pessoa tão lúcida quanto ele em todos os aspectos.
_A sensação esta diferente; não era assim nas outras vezes.
_ Que sensação?
_ Vai acontecer aqui Diana; vai acontecer, a voz disse. A voz disse.
_ Mais que voz, você ficou louco?
_ Eu tenho que esperar, tem a ver com aquele poste ali._ Ele apontou para o poste do outro lado da via.
Ângelo tirou do bolso o seu telefone celular e constatou intrigado que a carga havia acabado, mesmo ele tendo renovado totalmente a carga da bateria antes de sair de casa no início da tarde.
_Mais que droga!_ Disse.
_ O quê?_ rebateu Diana_ o que foi dessa vez?
_ Meu telefone está descarregado; pega o seu aparelho e fique atenta; quando acontecer ligue para o corpo de bombeiros imediatamente. Eu vou tentar impedir o que quer que seja.
Diana remexeu sua bolsa até encontrar o aparelho de telefone celular, não podia acreditar que estava fazendo aquilo.
_ Vamos embora Ângelo, por favor.
_ Ainda não, amor, precisamos ajudar essas pessoas, sejam elas quem forem. Acredite em mim.
Ela olhou ao redor, não havia pedestres andando ali, apenas alguns carros passando em alta velocidade pela Via Light, deviam estar a mais de oitenta por hora mais ou menos. Não era possível precisar.
Nenhum dos dois se deu conta de que estavam relativamente próximos do tal parque de diversões; a Via Light prosseguia por mais alguns metros em uma subida que ia inclinando levemente para a direita, mais uns duzentos ou trezentos metros à frente e já seria possível ver o topo da roda gigante onde ele operou o tão falado salvamento da pequena Ingrid; também era possível avistar o topo da montanha russa que eram os brinquedos mais altos e numa visão de longe dominavam o lugar. Porém naquele momento, o parque não era o mais importante, na verdade as memórias do salvamento, por mais gloriosas que fossem não tinham importância alguma porque ele estava perto de realizar outro exatamente ali.
Ângelo estava muito ansioso; ele não sabia ao certo o que estava esperando ou como tudo ia se desenrolar, mas temia que de alguma forma não fosse suficientemente rápido para ajudar, ele nunca tinha revelações completas dos fatos, eram sempre retalhos. Em sua cabeça nunca teve visões ou arrebatamentos como já vira muitas pessoas que se diziam paranormais na televisão testemunhando ter, ver ou intuir, e, tampouco era algo que ele controlava.
Geralmente tudo não passava de uma forte sensação, embora às vezes não passasse de uma simples certeza; uma sensação forte o suficiente para disparar todos os mecanismos de defesa e prontidão de que o corpo dele dispunha. A respiração ficava acelerada, os músculos ficavam mais tensos, o coração batendo mais rápido, não se descontrolava ou descompassava, só ficava mais acelerado fazendo com que o sangue circulasse mais rápido pelo corpo para irrigar melhor o cérebro e melhorar o tempo de respostas das ações que teria de tomar, fossem ações de ataque, autodefesa ou fuga.
Da mesma forma a pressão arterial se elevava e as glândulas suprarrenais estavam despejando o hormônio epinefrina, mais conhecido pelo nome de adrenalina, na corrente sanguínea; já prevendo e preparando todo o organismo para um provável aumento no esforço físico dado por um momento de estresse que ainda estava no âmbito do desconhecido. Todo o seu corpo entrava em alerta vermelho.
A voz que ele ouviu ali naquele início de noite, não era uma constante, na verdade ele só ouvira aquela voz revelando algo que ainda ia acontecer apenas uma única vez em sua vida e foi justamente no episódio do parque de diversões. Quando foi levado até lá pela sua já conhecida sensação de que algo muito ruim ia ocorrer e que ele deveria estar no local, mas chegando ao parque ele ouviu a voz, pela primeira vez, falando exatamente o que ele deveria fazer; entrar na fila do brinquedo, pagar pela entrada, embarcar na gaiola e esperar que tudo acontecesse. Ângelo só soube que devia salvar uma criança quando a viu sair praticamente voando da gaiola onde estava com o pai.
A voz o tinha intrigado sobremaneira, mas como ele estava acostumado a saber de coisas antecipadamente ainda que apenas alguns instantes antes de que acontecessem e sempre considerou aquilo como um dom, mesmo nunca tendo salvo a vida de qualquer pessoa ante de Ingrid; pensou apenas que seu dom de alguma forma estava evoluindo.Além do mais, depois do aparecimento daquele homem desconhecido que o marcara profundamente com o olhar penetrante e frio,deixou de pensar na voz, afinal ela o tinha guiado a uma excelente ação.
Todas as sensações anteriores ao parque diziam respeito a coisas triviais do cotidiano principalmente quando ele ainda era menor, sempre eram coisas que tinham pouca influência na vida das pessoas ou na sua; como adivinhar os números que sairiam ao se jogar um dado ao ar, por exemplo, ou saber qual das faces de uma moeda cairia voltada para baixo num cara-e-coroa. Mas depois de sua adolescência percebeu que pouco a pouco aquilo estava aumentando, evoluindo, mas de uma maneira muito lenta. Ele chegou até a ficar dois anos sem sentir absolutamente nada. Isso aconteceu no fim de sua adolescência início da idade adulta.
Já quando adulto, ele podia pressentir quando um copo ia cair, ou quando uma pessoa ida dar uma topada na rua, algumas brigas, tombos, pequenas batidas de carro e coisas desse tipo, mas sempre breves momentos antes de acontecer, o que não lhe dava muito tempo para interferir. Jamais foi capaz de interferir, às vezes tinha o desejo, mas estava além de sua vontade. Até o episódio no parque.
Com os olhos fixos no poste de iluminação do outro lado da rua, Ângelo viu finalmente uma pessoa, um homem passar caminhando tranquilamente pela calçada do acostamento, estava trajado com uma espécie de uniforme, algo como os usados por motoristas ou trocadores de ônibus, estava fumando; em nenhum momento desviou os olhos do caminho que fazia. Passou soprando pequenas nuvens de fumaça no ar como se nada mais na vida ou no mundo tivesse tanta importância quanto terminar de saborear e fumar aquele cigarro. Péssimo hábito.
_ O que é que vai acontecer aqui Ângelo? _perguntou Diana ainda de dentro do carro e com o telefone na mão.
Ângelo desviou os olhos do transeunte despreocupado do lado oposto da rua e voltou-se para a namorada.
_Alguma coisa ruim.
_Ruim? Como?!_ A paciência da mulher para com as brincadeiras do namorado já estava terminando.
Diana olhou para a ignição do carro e percebeu que a chave continuava lá, Ângelo não tinha retirado.
_ Mais eu posso impedir_ Falou ele procurando o homem do outro lado da rua e avistando-o muito longe ainda caminhado.
_Você perdeu o juízo!_ Vociferou ela.
_Eu posso impedir._ repetiu ele._ Tenho certeza de que posso impedir. Acredite em mim.
Diana estava abrindo a porta quando ouviu o barulho alto do motor roncando e da primeira derrapagem. Um carro vinha em alta velocidade, provavelmente muito acima do limite permitido, devia estar beirando os 100km/h.
A primeira derrapagem foi o suficiente para fazer o veículo perder completamente o controle da traseira e começar a riscar o asfalto lateralmente. A reação de Diana foi de espanto com o barulho, mas quando voltou a procurar o namorado, ele já estava correndo em direção ao outro lado da pista.
O carro vacilou de um lado para o outro, o motorista certamente tinha perdido a direção e o som seco e áspero da segunda derrapagem foi substituído por outro ainda mais brutal.
_ Ligue!_ gritou ele._Ligue agora, peça ajuda!_ continuava correndo.
Diana demorou meio minuto para entender o que estava acontecendo ali, o som da colisão brutal do carro em alta velocidade com o poste de iluminação do outro lado da rua foi tão violento que ela se abaixou com um susto enorme. O barulho de metal retorcendo, concreto rachando, vidros estilhaçando e uma infinidade de outras coisas se partindo terrivelmente, era, para ela, tão abominável quanto o som produzido por um dragão seria para um camponês da idade média.
O barulho estrondoso formado por todos aqueles sons se expandiu como uma onda sônica turbulenta.
Ângelo já tinha atravessado a via e chegou ao outro acostamento no exato momento da colisão. A onda de som foi tão alta e seca que ele se jogou no chão a tempo de não ser atingido por uma calota que passou voando sobre sua cabeça como um disco cortante.
Ângelo não havia previsto aquilo, mas foi uma tremenda sorte conseguir se esquivar em tempo.
O carro chocou-se contra o poste com uma violência tal que certamente seria perda total; todos os vidros foram destruídos instantaneamente criando uma nuvem composta por estilhaços de vidros de todas as janelas, em pedaços, que foi arremessada para frente; para além do veículo amassado.
O poste literalmente rasgou a frente do veículo e se curvou sobre ele amassando parte do teto do carro, destroçando motor, Filtro de ar, bateria, reservatórios de fluídos e tudo o mais que havia debaixo do capô; uma fumaça começou a sair do motor e logo uma poça de água e óleo estava se formando sob o carro.
Ângelo se levantou o mais rápido que pôde, já sabia o que tinha de fazer; salvar o ocupante do carro. Com a força da colisão a traseira do automóvel tinha se erguido meio metro do chão e quando finalmente o carro repousou, a traseira caiu fazendo um ruído surdo e chacoalhando toda a lataria solta. A calota que tinha sido arremessada como um disco giratório e cortante repousava no meio da rua.
Diana olhava de longe ainda meio sem acreditar. Parcialmente atordoada pelo horror da colisão.
Ângelo alcançou o lugar e contornando o carro até a janela dianteira esquerda logo viu que o motorista era um homem, quase de meia idade, cerca de quarenta ou quarenta e cinco anos, não mais do que isso, estava desacordado com a cabeça caída para frente e com um pouco de sangue pingando sobre a camisa. O carro era modelo popular, um Fiat Pálio quatro portas, logo, não dispunha de airbags; o cinto de segurança tinha feito todo o trabalho sozinho e evitado uma tragédia completa.
Antes de qualquer coisa, ele procurou na janela de trás para ver se havia mais alguma outra pessoa no veículo, uma criança talvez, lembrou da face assustada de Ingrid. Não havia mais ninguém, só o motorista. Tentou abrir a porta; teve de fazer força porque tanto o teto quanto a lataria lateral do carro estavam terrivelmente amassadas, e aporta estava retorcida e travada; seria uma grande sorte se o motorista não estivesse com os pés presos nas ferragens.
Ele sabia muito bem que a última coisa que se deve fazer com um acidentado é movê-lo de forma imprudente porque sempre existia o risco da vítima ter sofrido uma lesão na coluna vertebral e ao ser removida ou movida de qualquer forma, ter o dano na coluna agravado. Isso poderia fazer toda a diferença entre o homem sair de um acidente com todos os movimentos do corpo preservados, ou paraplégico ou tetraplégico. Portanto somente o resgate especializado poderia tocar na vítima e fazer a devida remoção depois de uma imobilização correta e segura.
Ângelo ficou em dúvida, não podia tocar no motorista, mas verificou pela janela mesmo que ele estava respirando; havia sangue escorrendo da testa, mas Ângelo não encostou no sangue, não estava com luvas apropriadas e essa era uma outra regra. Socorristas profissionais não costumavam tocar em acidentados sem luvas; ele aprendera isso numa das aulas de primeiros socorros da auto-escola.
Ele olhou por sobre o capô do carro para o outro lado da rua. A namorada olhava para ele de longe e pareceu despertar de um transe quando percebeu que estava sendo observada.
Diana discou os três números do serviço de emergência do corpo de bombeiros com as mãos trêmulas, quase deixou o telefone escapar e cair.
Ângelo não entendeu porque a sensação o tinha levado até aquele momento se ele não poderia fazer absolutamente nada para ajudar, a não ser, olhar o motorista desacordado até que o resgate chegasse para socorrê-lo. Até que sentiu o cheiro.
O cheiro forte e conhecido de gasolina estava por toda parte; imediatamente Ângelo se lembrou do homem com o cigarro que tinha passado exatamente naquele lugar, onde ele, o carro batido e a vítima desacordada estavam. Olhou para o chão procurando a bituca do cigarro; tinha certeza que aquele transeunte despreocupado havia jogado por ali em algum lugar, não o viu fazê-lo, mas a sensação dizia que o fogo ia aparecer e era apenas uma questão de tempo, pouco tempo. Teria de tirar a vítima de dentro do carro mesmo com a possibilidade de agravar algum dano sofrido. Era melhor escapar com vida.
O cheiro forte continuava entrando pelas narinas dele que tentou novamente abrir a porta do carro, mas não conseguiu; a porta ficou tão amassada que era impossível abri-la sem a ajuda de uma ferramenta apropriada.
Como a janela estava totalmente destruída e não havia vidro algum à mostra, Ângelo se enfiou para dentro até a cintura, esquecendo toda a prudência que tinha mantido até aquele momento. Dentro do carro o cheiro de gasolina era ainda mais forte. Ângelo tentou alcançar a trava do cinto de segurança; foi difícil, mas ele conseguiu, soltou o cinto e o corpo que estava levemente tombado para frente, caiu sobre ele.
Antes de sair olhou para o espaço onde estavam as pernas do motorista torcendo para que elas não estivessem presas por toda a ferragem da frente do carro que tinha sido compactada contra o banco onde o homem estava sentado.
Saiu de dentro do carro e segurando a vítima pelas axilas começou a puxá-lo para fora pela janela; procurou fazer com o máximo de cuidado possível, mas só por estar mexendo no homem já poderia estar causando um dano irreparável.
_Espero que eu não esteja fazendo uma loucura._ Disse para si mesmo.
Ele sabia que poderia estar inutilizando uma pessoa e dessa forma seu salvamento não seria completo. Pensou nos desdobramentos que aquilo poderia ter, mas ainda assim era melhor do que deixá-lo dentro do carro para ser queimado enquanto esperava o resgate.
Puxou o homem, que saia aos poucos como um peso morto; teve de fazer muita força e tentava a todo momento dar suporte à coluna e ao pescoço da vítima para que todo aquele pesadelo não se tornasse pior do que já seria.
A vítima era alta e estava acima do peso, mas não era gordo, e isso foi o que permitiu o resgate porque se o homem fosse cinco ou dez quilos mais pesado Ângelo jamais o teria tirado de dentro daquele carro. Mas felizmente tudo correu relativamente bem,os pés da vítima não estavam presos, foi preciso apenas um pouco de força para retirá-los das ferragens, porém os sapatos ficaram. Ângelo considerou aquilo quase como um milagre; não costumava crer em sorte.
Quando o homem estava fora do veículo Ângelo ainda teve de carregá-lo para longe temendo uma explosão; feito isso, deitou o corpo da vítima no solo, sempre mantendo a preocupação com a coluna e o pescoço. Apenas alguns instantes após tirar o homem do carro ele avistou a chama que nasceu debaixo das ferragens da traseira, entre as rodas. Rapidamente o fogo ganhou volume e tomou o carro praticamente por inteiro, não houve explosão, mas o fogo passou a consumir avidamente todos os componentes de tecido, plástico, borracha e até a tinta do automóvel.
Diana correu atravessando a rua no momento que viu o fogo; foi aonde Ângelo e o outro homem desacordado estavam, ambos, deitados no solo frio.
_ O corpo de bombeiros já está a caminho_ falou com a respiração ofegante pela corrida e pela incredulidade do que tinha acabado de acompanhar._ eles devem chegar em mais ou menos dez minutos.
O namorado respirava em haustos. Cansado pelo esforço de retirar e carregar um homem muito maior e mais pesado do que ele.
Diana olhou para o fogo.
_ Se você não estivesse aqui ele poderia morrer queimado._ disse.
Ângelo se virou e sentou. Em seguida falou:
_ Acho que não seria a batida que ia matá-lo, mas sim uma combinação estranha de fatores. A batida que o deixou inconsciente e espalhou gasolina e óleo por baixo do carro, somado a uma guimba acesa de cigarro que deu início ao fogo.
_ Você salvou mais uma pessoa, Ângelo!_ Diana parecia não acreditar_ É verdade. Então é mesmo verdade! Você sabia antes de acontecer!
Ele se limitou a, olhando nos olhos dela, balançar a cabeça positivamente.
Diana olhou para o céu noturno mais uma vez; continuava exatamente como antes; estrelado e limpo, sem nenhuma alteração.

(Ir para capítulo 5)

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