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Conspiração do caos -- Capítulo 11 -- Érebus




_Mônica!_ Ângelo despertou pronunciando aquele nome de forma assustada. O nome ribombava dentro de sua mente.
Ele acordou com a cabeça estourando de dor. Sentou na cama com as mãos nas têmporas. Sabia que o que estava sentindo era tão sério quanto às outras sensações que o levaram ao parque de diversões e a salvar o homem que bateu com o carro na estrada.
Ele se lembrava muito bem daquela mulher, prima de Patrícia; costumava estar nas festas e encontros na casa da família, se ele se lembrava bem, ela morava na casa dos fundos. Heloi chegou a comentar que ela estava morando ali porque tinha terminado um relacionamento complicado e Patrícia tinha oferecido ajuda. Era uma moça atraente, alegre e aparentemente feliz.
Mas ele tinha certeza de que aquela mulher estava correndo sério risco de vida, sabia que de alguma forma ela estaria morta ao anoitecer.
A dor da cabeça era tão forte que se irradiava para os olhos dele, Ângelo tentou pegar o telefone celular, mas tudo o que conseguiu foi derrubar algumas coisas do quarto, as cortinas estavam puxadas tapando qualquer claridade que pudesse entrar pela janela. Ficou de pé e abriu as cortinas, havia pouca claridade lá fora, a tarde estava começando a esmaecer; e nuvens carregadas ganhavam volume no céu. Um vento modesto fazia as copas das árvores à vista farfalharem. A chuva não estava longe de cair.
“A mulher vai morrer”_ ele ouviu. Era aquela voz novamente, mas não estava verdadeiramente audível, mas sim dentro de sua cabeça. “Venha salvá-la”.
Ângelo não entendia agora, como também não entendera das outras vezes, mas sabia que tinha de encontrar Mônica o mais rápido possível e ajudá-la de alguma forma. Não imaginava como.
O que poderia estar acontecendo, será que ela sofreria um acidente? Será que estava na estrada também? Seria um assalto? As possibilidades eram incontáveis, as pessoas estão sujeitas diariamente a uma gama gigantesca de possibilidades de que algo ruim aconteça. Tinha de localizá-la e para isso ligaria para Patrícia.
Finalmente pegou o telefone e discou tão rápido que pensou ter discado o número errado, foi preciso perder mais um segundo verificando, mas no visor do aparelho já tinha aparecido o nome: Patrícia.
Aguardou dois toques e a voz masculina sorridente atendeu do outro lado.
_Oi Ângelo. _Era Heloi no telefone.
_Heloi_ começou Ângelo_ preciso que você me ouça bem, não tenho muito tempo para explicar é questão de vida ou morte.
Havia um fundo musical no ambiente onde Heloi estava, Ângelo julgou que ele estava escutando música ou podia estar vendo algum filme na televisão com o som alto.
_ O que foi que aconteceu?_ O tom na voz de Heloi mudou para serio instantaneamente.
_ Aquela mulher que mora com vocês, Mônica, ela está em casa agora.
_ Por quê?
_ Preciso saber e tem de ser agora, ela está em perigo.
_Acho que ela está lá na casa dos fundos, vou perguntar à Patrícia, espere um momento.
O tempo pareceu uma eternidade e quando o outro voltou para dar a resposta Ângelo ouvia a voz de Patrícia ao fundo perguntando o que estava acontecendo. Heloi disse à esposa que não sabia.
_ Ela não está em casa_ retomou Heloi._ Saiu faz horas, mas disse que vai voltar para viajar conosco essa noite.
_ Aonde ela foi?_ Ângelo deixava transparecer a gravidade do momento na voz.
Houve mais um momento de consulta do outro lado, ele ouviu Patrícia dizer:
“Na casa do Leonardo”.
A voz de Heloi retornou:
_ Ela foi à casa do irmão.
Ângelo se lembrava do irmão dela, era um cara de bom papo, mas um pouco espaçoso, Patrícia e Heloi não morriam de amores por ele, sobretudo quando ele aparecia na casa deles sem avisar, era o tipo de cara que pede as coisas emprestadas e finge que se esquece de devolver. Segundo Heloi, Leonardo estava devendo dinheiro a ele e a várias financeiras, não conseguia se estabilizar na vida, mas muito por causa de seus vícios variados. Porém não cria que o próprio irmão pudesse representar perigo para Mônica; tinha de ser outra coisa.
Cada minuto contava.
_ Escute_ Ângelo voltou a falar_ preciso que você me ouça com muita atenção, não tenho tempo para explicar em detalhes, mas acho que Mônica vai morrer.
Ele ouviu um som estranho do outro lado. Mas continuou falando.
Talvez não devesse iniciar o assunto daquela forma, mas já tinha feito e o efeito seria criar uma grande confusão ao invés de deixá-los mais alerta. Já era tarde.
_ Estou com o pressentimento de que algo muito ruim vai acontecer e que se não agirmos em tempo ela vai morrer; sei que parece estranho e que talvez vocês não acreditem, mas foi assim que descobri que Ingrid ia sofrer o acidente no parque. Preciso saber como faço para chegar à casa de Leonardo. O tempo está contra nós.
Ele percebeu que o barulho que tinha escutado anteriormente era que o telefone estava no viva voz.
Patrícia perguntou:
_ O que vai acontecer com ela.
_ Não sei; por favor, só me digam como chegar lá.
Patrícia e o marido explicaram da forma mais rápida que conseguiram, não era difícil, mas naquelas circunstâncias não conseguiram dar atenção a vários detalhes e estavam um atropelando o outro. Ângelo teve de praticamente interpretar o que foi dito, mas pôde pegar as partes mais importantes. Já sabia como chegar ao lugar onde ela estava.
_ O que está acontecendo afinal_ perguntou Patrícia.
_Não sei, mas vou descobrir. Eu ligo depois.
Ângelo desligou o telefone sem nem parar para pensar que tinha feito um grande desserviço àquela família. A partir daquele momento eles iam ficar confusos e transtornados, quereriam descobrir o que estava acontecendo e iam acabar se envolvendo terrivelmente nos acontecimentos violentos cujas circunstâncias começavam a conspirar para criar.
***
Quando desligou o telefone, Heloi olhava para a esposa sem saber o que dizer; não entenderam o motivo daquela ligação, mas estavam completamente alarmados. Patrícia tomou o aparelho das mãos do marido e discou imediatamente para a prima.
Um, dois, três... cinco... dez toques e ninguém atendia. Desistiu do número celular e passou a discar o número residencial da casa de Leonardo. O resultado foi o mesmo; ninguém atendeu.
_Por que ninguém atende?_embora fosse uma pergunta, soou como um comentário também.
_ Fique calma “Paty”, vou pegar a chave do carro e vamos até lá pra ver o que está acontecendo.
_ Ângelo disse que ela estava correndo perigo. Como ele pode saber disso?
_ Não deve ser nada tão grave assim_ Heloi estava tentando manter o controle da situação e como a esposa já parecia estar emocionalmente abalada; percebeu que ele teria de manter a calma e a razão.
_ O que vamos fazer?_ Patrícia ainda mantinha o telefone junto da orelha esperando que alguém atendesse do outro lado da linha.
_Fale com a dona Rosa para dar uma olhada na Ingrid enquanto vamos até lá na casa do Leonardo; diga que é apenas por meia-hora.
Dona Rosa era a vizinha mais próxima da família; uma viúva de sessenta anos que morava na casa ao lado e gostava muito de fazer bolos e outros quitutes. De fato, toda aquela vizinhança era composta em sua maioria por pessoas mais idosas que moravam em casas grandes com quintais amplos e relativamente afastadas umas das outras, aquele foi um dos atrativos que fez com que Patrícia e o marido escolhessem morar lá.
A vizinha Rosa era a mais próxima da família e já tinha cuidado da filha deles por duas ocasiões e Ingrid gostava muito daquela senhora também; viam-se quase todos os dias. Era uma pessoa de muita confiança. Tivera dois filhos, um casal, ambos já casados e com suas respectivas famílias; mas nenhum deles visitava a mãe já fazia anos. Tinham-na abandonado e ela sabia disso.
Dona Rosa sobrevivia de uma pensão militar deixada pelo marido e passava os dias cuidando das flores de seu pequeno jardim na frente da casa, ou lendo sentada numa das cadeiras de seu quintal ou dentro do próprio lar. Adorava e tinha muito jeito com crianças, mas nunca vira os netos.
Enquanto Patrícia ia até a casa ao lado levando a pequena Ingrid, Heloi foi ao quarto e pegou a chave do carro, correu para a garagem e já estava tirando o veículo quando a esposa voltou apressadamente.
Ela entrou no automóvel enquanto o carro era manobrado, não queria perder tempo. Foram na direção da casa de Leonardo, não demorava muito quando a distância era percorrida de carro; o transporte público, ônibus, costumava dar algumas voltas, parava para embarque e desembarque de passageiros e ia por vias congestionadas; isso, dependendo do horário e do dia, transformava um trajeto relativamente curto em uma verdadeira saga.
Com o carro nada daquilo seria um problema real, Heloi conhecia muito bem as vias principais tal como as secundárias, conhecia também os caminhos alternativos e tomaria um atalho para diminuir ainda mais o tempo do percurso. Enquanto isso Patrícia continuava tentando contato telefônico, mas sem sucesso.
_ Ninguém atende._ Ela disse como num desabafo. Estava com o coração apertado.
_Continue tentando._ Heloi girava à esquerda numa rua sem nenhum movimento; em seguida engatou mais uma marcha no câmbio e pisou fundo no acelerador. O motor 1.8 do Chevrolet Meriva respondeu prontamente, os ocupantes do veículo sentiram uma leve pressão que os empurrava de encontro aos bancos onde estavam sentados. Era provocada pela velocidade que o carro ganhava a cada segundo. Não estavam longe.
_ Você acha que é algo sério?_Patrícia fazia as perguntas sem tirar os olhos da pequena tela do aparelho celular e os dedos do teclado.
Heloi procurava ser sempre muito cuidadoso em momentos de crise principalmente quando a esposa estava envolvida; ele ainda se lembrava do dia em que a filha foi arremessada para o lado de fora daquele brinquedo no parque de diversões, ainda lembrava de vê-la se precipitando em queda livre, presa apenas pelo cinto. E lembrava também da reação de Patrícia que acompanhou tudo de longe; a esposa dele desmaiou imediatamente.
Embora Patrícia fosse uma das mulheres mais fortes que ele conhecia no tocante a enfrentar diversidades de cunho cotidiano como problemas financeiros, domésticos ou de saúde; por outro lado, estava demonstrando uma certa instabilidade para lidar com momentos de crise mais agudas, mesmo que tais crises não passassem de boatos ou não se confirmassem. Aquilo vinha ocorrendo desde o episódio no parque; Heloi desconfiava que o choque emocional que ela recebeu naquela tarde foi tamanho que abriu alguma fenda dentro da esposa e ela estava tendo muita dificuldade de lidar com algumas situações desde então. Mas Patrícia fazia muita força para esconder aquilo não só do esposo como também da prima, dos colegas de trabalho e demais conhecidos.
Por várias vezes durante as madrugadas ela teve crises de choro compulsivo, muito embora não demonstrasse nada durante os dias, ela pensava que o marido estava dormindo e não via, Heloi tentou uma aproximação sutil, por várias vezes, para saber exatamente do que se tratava, mas Patrícia tinha erguido uma parede que protegia sua ferida, não aceitou nem mesmo a idéia que o esposo lhe deu, para procurar um analista e tentar um tratamento por algum tempo.
Com a pouca informação que ele havia extraído dela em dias de menor fragilidade soube que a tendência era uma gradativa melhora, mas o tempo seria fundamental, desde que nada mais de anormal atingisse aquela família. Heloi estava procurando dar todo o suporte que achava bom para a esposa, festas com amigos e parentes mais íntimos, viagens constantes com a família para lugares mais calmos e passeios diversos. Tudo estava custando uma verdadeira fortuna, mas valia cada centavo. Procurava qualificar ao máximo o tempo que passava com sua esposa e filha.
Mas agora uma nova possibilidade de tragédia estava tentando se materializar na vida deles e isso podia significar, além do óbvio, uma grande quantidade de sequelas em Patrícia, caso se confirmasse o que Ângelo tinha dito ao telefone.
_ Como Ângelo pode saber que Mônica está correndo perigo?_ ela perguntou. Já estava desistindo de tentar o contato via telefone.
Percebendo que o estado de espírito dela estava cada vez mais alterado o marido disse:
_ Procure se acalmar, logo vamos saber do que se trata.
Faltavam apenas duas quadras para chegar na casa de Leonardo.
_ Não posso me acalmar; e se realmente estiver acontecendo alguma coisa lá.
_ Não vai estar.
_ Então por que ela não atende o telefone?
Heloi não teve resposta para dar; apenas desejava que Ângelo estivesse completamente equivocado.
Uma quadra de distância.
Patrícia jogou o telefone para o banco de trás quando avistou a casa ao longe.
_ Ali!_ disse ela_ rápido, pare o carro!
Ainda não tinha estacionado quando ela abriu a porta, destravou o cinto de segurança e começou a sair.
_ Espere um momento_ falou Heloi.
Ela já estava caminhando na calçada, parou bem em frente ao portão de entrada e aguardou o marido.
Ele por sua vez desligou o motor do carro e acionou o alarme, em seguida saiu, mas não sem antes recolher o telefone da esposa que ela tinha jogado no banco de trás do veículo; na correria para sair de casa ele tinha esquecido o seu. Foi se juntar a ela na frente do portão.
_ Aparentemente parece que está tudo calmo aqui._ Ela disse olhando para dentro do terreno_ A casa está fechada.
Heloi concordou com a cabeça.
_ Não parece ter ninguém em casa._ falou.
Patrícia emendou:
_ Bem, se Mônica esteve aqui e não encontrou Leonardo, ela pode ter voltado para casa e algo pode ter acontecido no caminho.
_Quem sabe._ suspirou o marido.
_Vamos dar uma olhada lá dentro.
Heloi empurrou o portão que abriu sem ruído ou resistência alguma; ambos entraram no terreno e caminharam em direção a porta da frente. Olharam para o lado onde costumeiramente o dono da casa deixava seu carro, Gol, estacionado, mas não havia carro lá, aquilo indicava que Leonardo não estava em casa ou tinha vendido o veículo. Fazia anos que eles não iam até aquele lugar.
Ele experimentou a maçaneta da porta frontal, mas estava trancada.
_Está fechada._ disse.
_Quem sabe em que lugar Leonardo se meteu dessa vez._ Observou Patrícia. O carro não está na garagem.
_ Aonde ela pode ter ido.
_Não faço idéia.
Ela se recordou de que havia uma porta nos fundos.
_ Venha, vamos lá nos fundos.
Patrícia seguiu na frente sem se preocupar se estava correndo algum perigo e Heloi acompanhou de muito perto. Contornaram a casa e chegando ao quintal dos fundos, perceberam que a porta estava aberta e mantinha as chaves na fechadura do lado de fora. Olharam-se com desconfiança e pensaram a mesma coisa. Não chamariam pelo dono da casa, tampouco por Mônica porque se estivesse acontecendo algo dentro do lugar, não iam querer alertar ninguém.
_Liga pra polícia.
Heloi discou os três números, mas logo percebeu que a ligação não se completaria, pois o aparelho estava mostrando baixa carga de bateria e nenhum sinal.
_ Que estranho!
_O quê?
_ O telefone está sem carga e sem sinal.
_ Como assim? Ele estava totalmente carregado enquanto estávamos no carro, não pode ter perdido toda a carga de uma hora pra outra.
Heloi concordava, mas não tinha o que fazer. Teve uma péssima idéia.
_ Você me espera aqui; eu vou dar uma olhada rápida dentro da casa e volto já.
_ Mas se tiver um bandido ou algo assim aí dentro?_ Patrícia logo percebeu que não era um bom plano entrar sozinho e despreparado.
_ Só vou dar uma olhada, fique tranquila._ Heloi queria poupar a esposa de qualquer impacto mais forte, o que não devia acontecer ali porque não estavam ouvindo som algum saindo de dentro da casa.
Ele entregou o telefone para ela e entrou vagarosamente.
_Fique calma_ insistiu.
***
Mônica acordou desnorteada, estava deitada na cama do quarto do irmão, havia um cheiro muito forte ali, um cheiro incômodo e nauseante. A cabeça dela doía intensamente e seu maxilar inferior estalava quando ela abria a boca. Sentia um gosto horroroso e amargo na língua, mas sabia que aquilo era efeito da tontura que dançava em sua cabeça.
Tentou se mover, mas logo percebeu que estava amarrada com grossas tiras de lençol nos pulsos e nos tornozelos. Não eram tiras simples; Fausto havia cortado pedaços separados de um dos lençóis da casa e trançado três pedaços para cada um dos membros aprisionados, era quase como estar presa por “correntes” de pano muito resistentes.
Cada membro estava firmemente amarrado a um dos quatro pés da cama, os braços dela estavam em posição de dez horas para o braço direito e duas horas para o braço esquerdo e as pernas foram presas ligeiramente abertas na posição de sete horas à perna direita e cinco horas à perna esquerda. Ela olhou ao redor, mas não viu Fausto em parte alguma do quarto que não era tão grande, só tinha espaço para a cama, o guarda-roupas, que estava fechado, e umas poucas tralhas do irmão. Certamente Fausto a tinha amarrado enquanto estava desacordada e pelo visto tinha dado bastante trabalho confeccionar aquelas tranças de pano.
Cada amarra estava tão apertada que Mônica sabia que em pouco tempo sentiria formigamento nos membros, estavam funcionando como torniquetes improvisados. Ela tentou se mover, mas seu corpo foi tão bem preso que estava retesado e não havia possibilidade de movimentação, nem de um milímetro sequer.
“Onde estaria Fausto afinal?”_ pensou.
Os braços e pernas estavam ficando dormentes, ela queria se mover, mas a impossibilidade lhe causava uma agonia crescente.
Ouviu alguns barulhos muito baixos vindo do outro cômodo; Fausto estava tentando não ser ouvido enquanto fazia alguma coisa lá por dentro, mas os sons vinham aumentando gradativamente e vindo em direção do quarto. Ele podia ter ido buscar ferramentas ou utensílios para torturá-la, poderia usar facas, garfos e sabe Deus o que mais.
Mônica fez mais força para se soltar das amarras, mas o resultado foi o mesmo, os nós eram muito bem feitos e não cediam de forma nenhuma; poderiam facilmente ter sidos confeccionados por um velho marinheiro especialista no assunto tamanha a habilidade utilizada neles.
Havia uma película fina de suor se formando rapidamente sobre a testa da mulher enquanto ela se debatia contra sua prisão de pano, espuma e madeira; a tensão estava aumentando dentro dela e a lembrança de que Fausto tinha matado o irmão emergiu repentinamente fazendo com que seus olhos se enchessem de lágrimas novamente, porém, ela resistiu, fez uma força brutal para não cair outra vez em choro, porque aquilo certamente roubaria o pouco de energia que ainda tinha para continuar lutando por sua própria vida. Continuou movendo freneticamente os pulsos e os tornozelos na esperança de que as amarras e os nós se afrouxassem, mas tudo o que estava conseguindo era esfolar a pele naqueles lugares.
Os sons que vinham lentamente em direção ao quarto se tornaram mais claros, Fausto estava perto, ela pensou em fingir que estava desacordada para tentar ganhar tempo, mas teve medo de que o outro a maltratasse mesmo assim. Fausto não era uma pessoa comum; era um homem desalmado e sem coração.
Ele colocou a cabeça no limiar da porta e não foi o semblante de Fausto que Mônica viu, o alívio foi tão grande que o choro venceu a barreira erguida por ela; começou a chorar logo que viu o rosto de Heloi.
_ Meu Deus! Mônica!_ Ele ficou boquiaberto logo que a viu amarrada na cama daquele jeito.
Mônica soluçava em seu choro e tentava pronunciar o nome do amigo, mas não conseguia.
_Quem fez isso com você?_ Heloi correu até ela e tentou desesperadamente desamarrar os braços e pernas da mulher, mas logo percebeu que com as mãos nuas não seria possível; teria de encontrar algum objeto cortante como uma faca ou uma tesoura.
_ Se acalme, vou buscar algo para cortar essas amarras._ ele pensou em chamar a esposa, mas desistiu, não queria que ela visse a prima naquele estado deplorável amarrada como um animal e com uma equimose vermelha na bochecha e queixo. Numa primeira vista, parecia que Mônica estava pronta para uma sessão de masoquismo ou sadismo, Heloi não sabia a diferença. Uma coisa era certa, quem quer que tivesse feito aquilo tinha a intenção de machucá-la bastante, provavelmente por meio de tortura.Mas quem poderia querer praticar uma coisa assim com ela?
Obviamente que Heloi não sabia absolutamente nada sobre a dupla personalidade de Ricardo-Fausto, portanto também, não tinha a menor noção do nível de maldade que o seu inimigo possuía dentro de si; tampouco podia imaginar que ele mesmo assim como Patrícia e até sua pequena filha também eram alvos daquele monstro e que em alguns minutos se veriam frente a frente.
Ele se virou para deixar o quarto para procurar algo que pudesse ser usado a fim de cortar as cordas de pano, foi até a cozinha e encontrou uma faca que não parecia muito afiada, mas devia servir. Voltou para o quarto e com um pouco de esforço cortou cada uma das amarras que mantinha a mulher imobilizada sobre a cama.
Minutos depois Patrícia viu ambos saindo pela porta dos fundos, ela estava com medo e ainda não era possível nenhum contato telefônico com a polícia. Heloi saiu segurando Mônica que mantinha o braço ao redor do pescoço do outro e caminhava com certa dificuldade.
Ao ver a cena Patrícia se sobressaltou:
_ O que aconteceu?_perguntou ela.
Heloi saiu olhando para os lados como se temesse encontrar o homem que a tinha amarrado. Ele disse:
_ Conversamos no carro. Vamos sair rápido daqui e ir para casa.
_ Mas Mônica está muito ferida, precisa de atendimento médico.
Mônica se manifestou a respeito:
_ Não! Nada de médicos; ainda não. Primeiro preciso contar algumas coisas a vocês.
Já estavam no quintal andando com certa dificuldade, Heloi não queria forçar a outra a andar mais rápido porque tinha medo de que as pernas dela estivessem muito machucadas. Pediu ajuda à esposa.
_ Me dê uma mão aqui Paty.
A prima passou o outro braço de Mônica em volta de seu próprio pescoço e os três caminharam com maior facilidade até a parte frontal da casa. Mônica não chorava mais, mas seu rosto ainda estava molhado e os olhos demonstravam o avermelhado do choro compulsivo.
_ O que houve com seu rosto?_ Patrícia perguntou se referindo a mancha vermelha na bochecha e queixo da prima.
_ Fui agredida por aquele monstro.
_ Ricardo?_A prima e o marido pronunciaram o nome em uníssono.
Mônica tratou de esclarecer.
_ Fausto.
Nenhum dos outros dois sabia quem era Fausto e não tiveram tempo de perguntar. Quando estavam chegando ao portão viram um carro parando junto ao acostamento bem na frente da casa, logo atrás do carro de Heloi, e de dentro do veículo um rosto conhecido surgiu.
***
Descendo do carro o mais rápido que pôde, Ângelo avistou os três amigos caminhando de modo lento, os pais de Ingrid servindo de apoio para a mulher que parecia bastante machucada.
Ele correu até eles e percebeu que a face deles se iluminou ao vê-lo. Ângelo tomou o lugar de Patrícia para ajudar a levar a outra até o carro.
_ O que aconteceu?_ ele perguntou.
Heloi relatou o que tinha encontrado quando entrou na casa.
_ E não havia mais ninguém lá?
_Não. Só ela.
Ângelo temia que não fosse rápido o suficiente para salvar a mulher e temia também que avisar aos parentes dela tivesse sido um erro, mas se convenceu de que foi justamente aquele aviso que permitiu que os outros a encontrassem antes dele. Talvez ele não tivesse chegado a tempo. No meio do caminho ainda tinha ligado para Diana que estava se dirigindo para a casa dos pais de Ingrid para buscar o tal presente; Ângelo pediu que a namorada ficasse lá esperando por ele, mas agora que via que estavam todos na casa de Leonardo imaginou que Diana fosse voltar para a casa dela. Melhor assim.
Colocaram Mônica sentada no banco de trás do carro de Heloi; ela estava fraca pela quantidade de esforço que fez para se livrar das cordas de pano e suspirou longamente logo que se recostou no banco. Seus pulsos e tornozelos estavam parcialmente esfolados, mostrando marcas vermelhas intensas e pele machucada.
_Vamos levá-la ao hospital._ Falou Ângelo.
Patrícia interveio:
_Não. Ela disse que está bem, só um pouco cansada. Vamos pra casa.
Ângelo não entendeu o motivo de levarem-na para casa e não ao hospital, mesmo que Mônica estivesse bem como eles afirmavam, deveria passar pelas mãos de um médico que constatasse sua saúde.
_Então vou acompanhar vocês até lá._ ele disse.
_Ótimo. Assim você nos diz como é que sabia que minha prima estava correndo perigo de vida.
Aquilo não era nada bom; Ângelo já tinha sofrido bastante contando seu segredo para Diana e não pretendia revelar para mais ninguém, mas por outro lado como ia explicar o fato de saber sobre a iminência de um perigo na vida de outras pessoas. Não lhe restavam muitas opções a não ser falar a verdade e torcer para que os outros acreditassem e entendessem.
Heloi, Patrícia e Mônica seguiram no veículo da frente rumo a casa deles, Ângelo foi com seu próprio carro seguindo-os de perto. Novamente não usaram as vias principais, mais movimentadas, retornaram andando mais lentamente do que quando tinham vindo para o resgate.
A cabeça já não doía tanto, mas ainda havia um leve desconforto pulsante; Ângelo ainda não tinha certeza se o perigo que rondava aquela mulher tinha realmente sido dissipado. Tudo parecia indicar que sim, afinal ela estava segura com seus parentes no carro da frente e logo estaria em casa, não tinha do que se preocupar a menos que suas sensações dissessem respeito a um acidente doméstico. O que não era o caso.
Aquela certeza lhe dizia que o golpe que recairia sobre Mônica só tinha passado à frente para quando retornar, causar um estrago muito maior. Talvez Mônica não fosse o alvo e sim uma isca.
Ele se endireitou atrás do volante.
Enquanto dirigia Ângelo olhava atentamente para o carro à frente onde seus amigos estavam, permanecia alerta para o caso de que algo fora do comum acontecesse, não sabia o que podia ser, mas sabia que ia acontecer. Lembrou do acidente na estrada, da força da batida do carro contra o poste de iluminação e de como as coisas praticamente tinham se arrumado quase como numa conspiração astral para tirar a vida do motorista. E a voz? Aquela voz alta e forte como um trovão. O que significava?
Ele não tinha as respostas que procurava, mas algo lhe dizia que logo teria. Podia estar ficando totalmente paranóico, mas preferia ser paranóico porque por algum motivo ele sabia que não era um acidente doméstico que ameaçava a vida de Mônica, nem mesmo era um acidente como aconteceu com Ingrid; Ângelo sabia que a vida de Mônica corria perigo, mas era algo diferente, um mal na forma humana.
_Estou ficando completamente louco._ Disse para si mesmo. E continuou._ O que estou fazendo? Por que estou dando ouvidos a essas sensações e vozes interiores, tudo isso é loucura.
O carro da frente parou em um sinal e ele parou o seu logo atrás, subiu o vidro parcialmente escurecido de seu veículo para que as pessoas na rua não o vissem conversando consigo mesmo e não pensassem que ele era louco. Ninguém estava prestando atenção nele, as pessoas estavam ocupadas demais cuidando de suas próprias vidas e não tinham tempo para notar um homem falando sozinho dentro do carro, mas mesmo assim ele subiu o vidro da janela, se isolando do mundo lá fora. Os sons do exterior foram parcialmente impedidos de penetrar na cabine do carro e Ângelo podia ficar mais sossegado com seus pensamentos.
O sinal abriu rapidamente. Estavam muito perto da casa deles.
_ Estou perdendo o controle; tenho sonhos estranhos, visões em espelhos e garagens; e essas sensações que não me deixam. Talvez não haja nada ameaçando a vida dessa mulher_ tentou acreditar em suas próprias declarações, mas não era assim tão fácil_ então como é que ela foi parar naquela casa e amarrada?
Ele sabia que fechar os olhos para as evidências não ia adiantar, tinha que aceitar e continuar. Lembrou outra vez das palavras do estranho no sonho que teve na casa de Diana. No sonho o estranho falou que Ângelo estava sendo procurado por um assassino que tentava matar uma mulher e que esse assassino nem mesmo sabia, mas estava servindo a algo chamado Caos.
As coisas fizeram um mórbido sentido naquele instante; Mônica era a mulher. A mulher cujos gritos de agonia o atormentaram repetidas vezes em sonhos que tivera seguidamente, mas que ele não conseguia salvar. E o que quer que estivesse atrás dela, estava também atrás dele e talvez nem o soubesse. Tudo aquilo não era coincidência, existia um sentido regendo todos aqueles acontecimentos; ele pensou que algo ou alguma coisa estava movendo todos eles como pequenas peças num tabuleiro de xadrez, mas com que propósito?
O carro de Heloi parou na frente da casa deles, havia mais um carro lá e era o veículo de Diana; ela estava encostada ao automóvel e esperava pacientemente, não tinha voltado para casa como Ângelo inicialmente supunha.
***
Os três carros estavam parados um atrás do outro bem na frente da casa dos parentes de Mônica, e praticamente todas as pessoas que ele tinha visto naquela maldita foto estavam ali com ela. Os dois homens estavam-na ajudando a caminhar; um deles era aquele que também possuía algo especial e as mulheres observavam atentamente, uma delas abriu o portão para que todos entrassem no quintal da casa. Nenhum deles percebeu quando o Volkswagen gol passou pela rua bem em frente da casa e numa velocidade extremamente reduzida; tampouco notaram que o único ocupante do carro os tinha seguido sorrateiramente desde a casa de Leonardo e que agora conhecia o lugar onde Mônica se escondera por todo aquele tempo.
Fausto tinha amarrado Mônica e em seguida teve a sensação de que alguém se aproximava; saiu da casa e quando estava quase no portão olhou o carro de Leonardo na garagem improvisada. Voltou para dentro do imóvel e revirou o quarto até encontrar a chave do veículo, tirou o carro e ficou dentro dele estacionado a uma distância que julgou segura, mas de onde podia ter uma boa visão da casa.
De lá ele viu o primeiro automóvel chegar e duas pessoas saírem de dentro dele, um homem e uma mulher, entraram no quintal depois de uma parada rápida no portão. Fausto imaginou quanto tempo levariam para retirar Mônica da cama; não demorou muito, eles foram bem rápidos. Será que achariam o corpo de Leonardo? Se acontecesse seria dolorosamente saboroso ver o sofrimento no rosto de cada um deles, mas eles provavelmente não procuraram por Leonardo, seus semblantes ao sair para a rua era de alívio por escapar daquela armadilha com a vida da mulher preservada; talvez tenham imaginado que o dono da casa não estava, mas Mônica logo contaria a verdade. Gostaria muito de ver o terror dos rostos deles quando a mulher revelasse que o irmão estava morto, mas logo poderia mostrar a cada um deles o máximo de terror que jamais sonharam experimentar em suas vidas medíocres.
Em seguida, enquanto Fausto esperava à distância dentro do gol com a sua arma no banco a seu lado, chegou um segundo veículo, outro homem saiu e os ajudou a colocar Mônica num dos carros. Conversaram por alguns instantes, mais foi breve, estavam com pressa para sair dali e não faziam idéia de que estavam sendo observados.
Um plano se formou imediatamente na cabeça de Fausto como que soprado por uma entidade obscura pairando sobre sua cabeça. Naquele momento ele soube que estava diante da oportunidade de atacar não somente Mônica, mas sim todos os que a ajudaram a se esconder e ao mesmo tempo teria a chance de ficar frente a frente com o outro homem especial e descobrir se teria nele um aliado ou se mataria ele ainda naquela noite que se aproximava.
Logo que os carros saíram Fausto ligou o motor e deu a partida também, dirigiu mantendo uma distância apropriada para não ser notado, mas tinha certeza de que nenhuma daquelas pessoas estava esperando ser seguida.
Ele estacionou o gol quase quarenta metros depois de onde os outros estavam, pegou a arma do banco ao lado e colocou na calça, cobriu com a camisa. A mochila ficaria no carro até ele voltar; após o massacre.
Saiu do carro e começou a caminhar na direção da casa onde os outros tinham acabado de entrar, ia pegá-los completamente desprevenidos, seria rápido e não daria chance para defesa de nenhum deles. Ainda queria torturar Mônica, mas teria mais opções se levasse em conta que havia mais duas outras mulheres na casa; poderia utilizar cada uma delas da forma que mais lhe conviesse, saciar seus desejos e quem sabe manter uma delas ainda respirando por mais dias do que as outras.
Para os homens ele tinha um plano diferente, pretendia eliminar o dono da casa logo de início, porque dessa forma teria todas as outras pessoas que ali se encontravam, em suas mãos, eles perceberiam que Fausto não nutria nenhum apego pela vida e não tentariam nenhum tipo de heroísmo desesperado. Nem mesmo o jovem especial.
Aliás, assim que desse cabo do dono da casa, ia expor da forma mais sucinta possível sua visão das coisas e estender o convite ao outro, mas não se demoraria na tarefa e pretendia perguntar uma única vez. Fausto podia identificar um potencial muito superior ao seu naquele jovem e não podia arriscar sua vida e liberdade recém conquistada a custo de um erro de cálculos.
Se por ventura o outro já possuísse domínio de suas forças fora do comum poderia causar muitos problemas. Não pretendia dar opções a ele.
A hora de mostrar do que era capaz tinha surgido.
Chegou frente ao muro da casa e olhou para dentro, os outros já tinham entrado no domicílio; Fausto empurrou o portão sem se preocupar se seria visto por outras pessoas da rua. Entrou e a primeira coisa que olhou foi a grande e frondosa árvore ao lado da casa; árvore sob a qual eles tinham posado para a foto abominável que ele tinha em sua mochila.
Sacou a pistola que trazia na cintura e espreitou. O clima mudou, os primeiros pingos grossos de água começaram a tocar o solo por toda parte. A chuva cairia em seguida.
Fausto entrou na casa pela porta da sala, a primeira porta aberta que viu, por onde os outros tinham acabado de passar poucos instantes antes.


(Ir para capítulo 12)

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