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Pesadelo -- Capítulo 12 -- Érebus




Ângelo tinha acabado de passar pela porta ajudando Heloi a carregar Mônica; as mulheres, Patrícia e Diana tinham acabado de sentar na sala, eles pretendiam conversar longamente sobre o que estava acontecendo de verdade, em que exatamente Mônica tinha se metido e como Ângelo estava sabendo das coisas sobre ela. Estavam todos com os rostos sérios e preocupados.
Mônica não sabia como explicar sobre seu antigo companheiro e na verdade não sabia ao certo o motivo pelo qual ele queria matá-la, mas teria de dizer sobre o assassinato de Leonardo, não podia esconder isso, já tinha omitido demais. Ela ia se expor o máximo que conseguisse, a família de Patrícia merecia saber a verdade, tinham-na ajudado muito não só naquele momento mais em praticamente todos os momentos difíceis que já tivera na vida e ela não podia pagar tal ajuda com mentiras e segredos. Ia contar tudo mesmo que parecesse insólito e surreal demais para se acreditar.
Ângelo por sua vez estava preocupado por não saber ao certo como falar a respeito do que ele era capaz de fazer ou de saber, para ser mais exato, falar sobre como às vezes descobria coisas, ora por sonhos, ora por vozes e ora por sensações, ele mesmo não sabia o que dizer, nunca soube qual era a origem de todos aqueles fenômenos; sempre fez milhares, milhões de especulações e suposições sobre si mesmo, mas nenhuma delas era tão concreta quanto qualquer outra. Jamais encontrara uma resposta ou indício de resposta que pudesse lhe dar qualquer direção; até o momento do sonho que teve na casa da namorada. Tudo o que ele podia dizer era o que já tinha contado para Diana no dia anterior, mas sabia que aquilo não seria suficiente para aplacar as dúvidas que iam se erguer naquela sala. Teve medo de ser crucificado ou taxado como uma aberração.
A própria namorada já fomentava uma quantidade enorme de novas perguntas e só esperava o momento mais oportuno para derramar todas elas sobre Ângelo, se começassem a falar sobre o assunto naquela sala ela certamente aproveitaria o cenário para procurar elucidar alguns fatos; porém, ele sabia que tudo aquilo era em vão, não tinha as respostas e só queria que todas aquelas coisas parassem de acontecer. Se ele pudesse arrancaria aqueles sentimentos e sensações de dentro da cabeça com as próprias mãos e seria só um cara comum.
_Sente-se aqui._ Disse Heloi ajudando Mônica a se sentar no sofá.
Ângelo olhou ao redor como se algo estivesse faltando na sala, era mais uma de suas sensações; tão forte que ele por um segundo pensou que o teto do lugar fosse cair sobre suas cabeças. Ia contar às outras pessoas, mas antes, como que numa atitude de puro reflexo puxou pela memória que tinha da sala, olhou rapidamente os objetos tentando perceber qualquer irregularidade que fosse chamativa ao menos para ele, mas nada parecia relevante até que se ouviu fazendo a pergunta:
_Onde está Ingrid?
Patrícia levantou os olhos da mesa de centro na qual tinha colocado o celular que não funcionava mais e respondeu:
_ Na casa ao lado com nossa vizinha.
_ Dona Rosa_ completou o pai.
Aquilo pareceu ser algo alentador embora ele não soubesse o motivo. Era a falta da menina que ele estava sentindo, era bastante apegado a ela e percebia que algo estranho estava gradativamente inundando a sala.
_ Estão percebendo isso?_ perguntou.
Todos os outros se olharam fazendo movimentos com os ombros em sinal de que não estavam notando nada de diferente.
_Isso o quê?_ Diana perguntou.
Algo se moveu junto à parede, alguma coisa grande e translúcida que distorceu o lugar onde estava, uma coisa sem forma, mas bastante grande. Ângelo tentou identificar o que podia ser, mas não tinha a mais remota idéia do que aquilo significava.
_Estão vendo aquilo?_ Perguntou enquanto apontava para o local do outro lado da sala.
Todos se viraram quase que ao mesmo tempo, ficaram parados olhando para o lugar indicado.
Diana olhou de volta para o namorado com um olhar duvidoso, em seguida Heloi e Patrícia também se voltaram para ele com o mesmo semblante de dúvida.
_ Aquilo o quê. Ângelo?
Ele soube naquele momento que nenhum deles estava vendo, fosse aquilo o que fosse, e logo as lembranças retornaram; o ser sem forma na garagem de Diana e a forma translúcida no sonho que ele tinha vislumbrado por detrás do homem que falava com ele. Era como se aquelas duas aparições fossem uma só coisa, algo que o estivesse rodeando constantemente, tomando conta de seus passos e até de seus sonhos.
_ Só posso estar ficando louco._ comentou.
Mônica observava tudo com um ar de quem estava vendo um filme repetido, tinha visto algo semelhante acontecer com Ricardo e o final foi o surgimento daquela aberração chamada Fausto, se é que aquele era o nome verdadeiro dele. Ela já começava a desconfiar se Fausto era mesmo uma segunda personalidade ou se era uma criatura errante que por algum motivo se apossou do corpo de Ricardo. Tolice. Talvez.
_O que você está vendo?_ perguntou Mônica sob os olhares atentos dos outros.
O vulto translúcido se moveu de um lado para outro e em seguida se desfez completamente como se nunca tivesse estado ali presente com eles.
Ângelo se limitou a passar as mãos sobre o rosto como que com um cansaço pesando novamente sobre os ombros e suspirou.
_ Tem coisas muito esquisitas acontecendo comigo e eu não sei como definir ou sequer explicar.
_ É sobre aquele negócio?_ Perguntou Diana obviamente falando do segredo que até então ele havia confidenciado somente a ela.
Ele olhou para todos os outros, seus olhares brilhantes esperavam, na verdade desejavam, ouvir qualquer coisa que desse sentido ao que parecia ser uma queda sobrenatural na qual toda aquela família estava começando a cair, embora nem todos ali acreditassem em coisas ligadas ao sobrenatural. Eles não sabiam, mas esse conceito ia mudar radicalmente.
_ É sim._ respondeu.
Todos eles naquele momento tiveram a leve, porém nítida sensação de que algo ruim estava ao redor, à espreita, e que tanto Ângelo quanto Mônica sabiam do que se tratava.
Ângelo abriu a boca para dizer algo mesmo sem saber o que ia falar, ficou um tempo naquele estado tentando exteriorizar algo, organizar os pensamentos ou concatenar uma idéia, mas não havia nada que ele pudesse dizer. Suspirou.
Mônica tomou a frente e perguntou:
_ O que você viu? Uma sombra sem forma? Um inseto gigante ou um vulto transparente?
As perguntas eram, aos ouvidos dos outros, completamente estapafúrdias, mas Ângelo respondeu com a voz arrastada como se sua garganta estivesse repleta de arame farpado para tentar impedir o som de sair.
_Vi uma coisa grande e transparente bem ali_ disse apontando novamente para o lugar._ Mas agora não está mais lá.
Todos olharam para o lugar novamente e depois se voltaram para ele.
Patrícia se virou para a prima.
_ Como você sabia disso? O que significa?
Novamente os olhares de todos os outros recaíram sobre Mônica que respondeu:
_ Não sei o que significa, mas sei que isso aconteceu com Ricardo também logo que tudo começou. Ele via coisas translúcidas pela casa, seres sem forma, vozes estrondosas, insetos gigantes, fantasmas, tinha sonhos estranhos, pesadelos e outras coisas desse tipo; ficou neurótico com isso; pensei que fosse algum problema mental dele, um surto, mas agora vejo que alguma coisa está acontecendo com todos nós.
_ Que coisa? E por que conosco?_ Patrícia perguntou.
_ Não sei.
Era pouca informação, mas Ângelo ficou curiosos com a menção do fato de que outra pessoa já tinha passado por aquilo que ele agora vivenciava na própria pele, Mônica tinha dito que seu antigo companheiro também tinha as mesmas visões, embora ele, Ângelo, nunca tivesse visto nenhum inseto gigante, não que se lembrasse. Mas aquelas informações ainda não eram o suficiente para estabelecer uma relação ou conexão entre eles, Ângelo nem o conhecia, jamais o vira na vida, apenas ouvira falar poucas vezes nesse tal Ricardo. Aparentemente não tinham nada em comum, exceto o fato de que conheciam Mônica.Usando de pensamento rápido e um pouco de imaginação ele concluiu que ela era a única ligação, o único ponto em comum entre as vidas deles, mas novamente não passava de uma suposição baseada em absolutamente nada. Não tinha argumento algum que comprovasse a desconfiança de que de um modo muito peculiar Mônica estava ligando as vidas deles com algo fora da esfera comum da compreensão humana; além disso, Ângelo já tinha experimentado aqueles fenômenos muito antes de conhecê-la. Ou seja, novamente suas especulações tinham se mostrado inúteis. Certamente havia uma explicação para tudo aquilo, mas Ângelo achava que estava muito longe de descobrir qual era. Sentia como se estivesse andando em círculos o tempo todo.
Antes que qualquer outra pessoa na sala pudesse dizer qualquer outra coisa Mônica tinha de revelar sobre a morte do irmão, era imprescindível alertar a todos sobre com quem estavam lidando e mesmo que ela não conhecesse a verdade sobre Fausto por completo, sabia que ele poderia arquitetar coisas terríveis e até matar novamente. Teriam de decidir se deviam envolver as autoridades e chamar a polícia; o que era o mais sensato a fazer.
Mônica se levantou do sofá com um pouco de esforço por causa das dores no corpo, resquícios de sua prisão feita de panos cortados e entrelaçados.
_ Gente preciso falar uma coisa importante._ Disse com as mãos erguidas para chamar a atenção de todos.
Os braços doíam e estavam pesados por causa do esforço que antes fizera para se libertar.
Todos os pensamentos ali estavam dispersos, mas rapidamente confluíram para ela como se fosse a presidente de uma reunião importante prestes a fazer uma revelação bombástica.
_ Leonardo está morto._ Muitas lembranças de momentos que passou ao lado do irmão desde a infância inundaram a mente dela enquanto falava.
O silêncio inicial foi quebrado por Heloi:
_ Morto! Como, onde?
Novamente os olhos dela voltaram a se encher com as poucas lágrimas que ainda tinha dentro do corpo.
_ Não sei onde ele está nem como isso aconteceu, mas sei exatamente quem fez. _Teve de fazer uma leve pausa porque teve a voz embargada, mas se controlou e conseguiu continuar._ Fausto o matou.
Patrícia sempre pensou que Fausto era amante da prima e imaginava que Mônica não tivesse coragem ou sofresse vergonha de contar sobre seu caso com ele, imaginou que também por isso o relacionamento com Ricardo tinha se desgastado e terminado. Mônica nunca revelou direito qual era sua relação com essa pessoa e deixou muita margem para todo tipo de interpretações avulsas. Na cabeça de Patrícia, aquela revelação fez tanto sentido quanto o restante das coisas que estavam acontecendo durante o dia. Para ela, Fausto era apenas um nome mencionado vez por outra de uma pessoa da qual ela não conhecia absolutamente nada. Esperava que Mônica tomasse coragem para revelar os fatos que a ligavam a Fausto, mas a prima sempre procurou manter distância de tais assuntos.
_ Seu amante matou Leonardo._ Ela perguntou deixando escapar o que pensava ser Fausto.
_ Amante!_Heloi pareceu realmente surpreso. A esposa jamais tinha comentado que a prima tinha alguém além de Ricardo.
Diana e Ângelo se limitaram a observá-la, não tinham nada a dizer sobre aquilo.
Mônica se apressou em tentar desfazer o mal entendido.
_ Fausto não é meu amante.
_ Então quem ele é?_ Heloi perguntou e Patrícia achou que ele estava interessado demais, até mesmo para uma situação como aquela.
Em determinadas ocasiões, a dona da casa percebeu que o marido direcionava olhares diferenciados para sua hospede, Mônica parecia não notar ou ao menos fingia não notar. Era um tanto raro, mas Patrícia decidiu não fazer caso daquilo, porém ficou mais atenta, e no fim, nada mais sério aconteceu.
Ela olhou de modo hostil para o próprio marido, poderia tê-lo fuzilado com aquele olhar, mas como todos mantinham a atenção em Mônica ninguém notou.
_ Não sei se sou capaz de explicar._ ela disse num suspiro, procurando as palavras que permitissem dar a melhor idéia possível de tudo o que tinha a dizer.
Mas o que aconteceu em seguida deixou todos sem ação. Atônitos.
_Fausto sou eu!_ A voz vinha do pequeno corredor ligando a porta à cozinha. Os olhares se voltaram para lá e o homem estava de pé bem no limiar entre os cômodos, ereto como uma haste de ferro e segurava uma arma em direção a eles. O braço cuja mão segurava a arma estava tão estendido que mais parecia uma lança pronta para atravessar qualquer um deles que tentasse fugir; Mas não era uma lança, todos sabiam, era muito pior. Uma arma.
Todos na sala o conheciam, porém o conheciam como Ricardo.
_ Ricardo, o que está fazendo?_ perguntou Heloi sem entender bem o motivo que o levava a apontar aquela arma na direção deles.
_Isso é uma arma de verdade?_ emendou Patrícia.
Mônica ficou tão apavorada que perdeu a voz, estava tentando dizer que não se tratava de quem eles estavam pensando, mas sim do demônio que a tinha agredido com um soco, amarrado sobre a cama e feito sabe-se lá mais o quê. Ela estava apavorada, não podia imaginar como ele tinha descoberto aquele endereço. Agora não só ela corria um terrível risco, mas todos ali também.
Diana ainda estava tentando entender o que se passava com aquele insólito encontro, mas seu namorado já tinha uma noção muito mais além do que todas as demais pessoas presentes.
Ao ver a face do homem a quem todos chamavam de Ricardo, Ângelo sabia que algo muito ruim ia acontecer; aquele homem era a mesma pessoa que tinha falado com ele no parque de diversões na tarde em que salvara a pequena Ingrid da queda no brinquedo e por mais terrivelmente estranho que pudesse parecer, aquela mesma pessoa era que tinha aparecido em seu sonho na casa de Diana, na noite anterior, falando sobre deuses e caos.
Ângelo ficou momentaneamente confuso.
O sorriso na face de Fausto foi o mais maníaco que todos ali já viram em suas vidas, os olhos injetados denotavam o perfil de uma pessoa semelhante a alguém em avançado estágio de consumo contínuo de alguma droga alucinógena poderosa, mas Mônica e Ângelo sabiam que não era esse o caso. Havia algo pairando de forma misteriosa no rosto transtornado dele, uma satisfação macabra, talvez.
Fausto quase emanava a felicidade malévola que estava sentindo por ter encontrado todas as pessoas que pretendia punir. Imediatamente imaginou o que ficaria melhor para ser feito com cada um deles; detestou Heloi instantaneamente e concluiu que aquele não o serviria para nada, ia matá-lo rapidamente e não pretendia gastar mais do que uma única bala para isso. Já a mulher, Patrícia, podia servir a seus propósitos assim como a outra bela mulher, a qual ainda não sabia o nome; era mais nova do que Mônica e sua prima, mas tão bonita quanto elas.
Ouviu uma voz chiante sussurrar em seu ouvido:
_ Diiiaaaanaaaa!_ revelou. Agora já sabia o nome dela.
Elas possuíam belezas diferentes, mas nenhum olho masculino não as acharia atraentes e não as desejaria. Fausto planejou mantê-las como escravas logo que terminasse com tudo aquilo, quem sabe até não conseguiria montar para si um grande harém de escravas diversas. Pensaria nisso mais tarde, porque por hora precisava se concentrar em eliminar o dono da casa e fazer com que o outro homem que salvou a menina no parque aceitasse celebrar uma aliança com ele.
Na cabeça dele, Mônica ainda teria o mesmo destino que tinha traçado para ela anteriormente, mas desejava matá-la com as mãos nuas; primeiro espancá-la, em seguida se aproveitaria dela deixando livre toda a sua imaginação sádica; seria delicioso, e por fim desejava sufocá-la pelo pescoço, apertando a garganta para sentir a respiração dela definhar até sumir e o coração parar de bombear.
Fausto queria olhar diretamente nos olhos dela para ter a certeza de que a sua imagem ficaria colada eternamente na retina e na memória de sua vítima e seria a última coisa que Mônica veria em vida e que levaria esta imagem consigo para as profundezas. Ele queria ficar sobre o corpo sem vida dela esperando pacientemente que todo o calor corporal da mulher fosse se dispersando, como se ele mesmo estivesse drenando qualquer resquício final de vida que ainda pudesse existir, e, por fim, abandonaria o corpo dela em algum lugar onde não pudesse ser encontrada. Fausto se deliciou tanto com aquele pensamento que chegou a estremecer de satisfação por dentro.
Ainda mais rápido do que tudo o que tinha pensado até então, se configurou a parte mais complicada de seu plano, o herói precisava passar para seu lado ou então morreria também ali junto com os outros, mas antes mesmo que a dúvida de como fazer com que o homem se dobrasse aos seus intentos se formasse na cabeça de Fausto, ele ouviu novamente:
_ Diiiaaanaaaa._ A voz chiante pronunciou o nome da mulher pela segunda vez.
Fausto soube que a chave para dobrar o herói era aquela mulher, então usaria de sua experiência em ameaças e violência para alcançar tal objetivo.
Todos aqueles pensamentos não demoraram mais do que uma simples fração de segundo, foi como uma descarga concentrada vinda de alguma zona fora da matéria, de algum lugar habitado somente por espíritos do mal.
_ Passei bastante tempo procurando por vocês._afirmou mostrando o sorriso largo que deixava aparecer os dentes.
_Não estou entendendo. _ Patrícia disse assustada, mantendo o olhar fixo na pistola ameaçadora.
O marido disse logo em seguida:
_ Abaixa essa arma, Ricardo, que brincadeira é essa? Você ficou louco? Vai acabar machucando alguém.
Para os donos da casa a situação se desenhava da seguinte forma: Ricardo estava transtornado provavelmente pela traição de Mônica com esse tal Fausto e desejava, como vingança, acertar as contas com ela. Esse era um quadro que todos ali podiam aceitar; loucuras passionais estavam se tornando cada vez mais comuns nos dias atuais, mas não era o que realmente estava acontecendo ali. E estava muito longe da inexorável realidade.
Fausto disse:
_Eu só vou falar uma vez. Você vai morrer hoje_ apontou a arma para o dono da casa, em seguida continuou_ Vocês três vão ficar comigo por algum tempo_ apontou para as mulheres, Mônica, Patrícia e Diana. E você meu rapaz_ apontou para Ângelo_ temos algo a conversar; algo muito sério. Tenho uma proposta para você. É pegar ou largar e sem tempo para pensar desta vez.
Nem mesmo Fausto sabia por qual pronunciou aquela última frase. As palavras simplesmente saíram.
Todos ouviram um som pesado que entrou na sala por todos os lados ao mesmo tempo, num primeiro momento não conseguiram discernir do que se tratava até que perceberam que era a forte chuva que o dia tinha prometido com suas pesadas nuvens do lado de fora desde o amanhecer.
Finalmente Mônica conseguiu falar:
_ Fausto, pelo amor de Deus! O que você está fazendo? Deixe-nos em paz!
Os outros levaram mais uns milésimos para entender o que tinham acabado de ouvir e acertar seus pensamentos, ela estava chamando Ricardo pelo nome do amante. Não fazia o menor sentido.
_O que significa isso, Mônica?_ Patrícia quis saber.
A prima respondeu com o desespero quase tomando conta de todo o seu corpo:
_ Fausto e Ricardo são a mesma pessoa!_ pronunciou a frase quase gritando.
Antes que outro falasse, Fausto perguntou:
_Onde está a criança?
Ninguém respondeu.
_ Ótimo, eu já esperava por um pouco de resistência. Isso vai tornar as coisas mais empolgantes.
Naquele momento Ângelo viu novamente algo se movendo por trás de Ricardo ou Fausto, ou fosse ele quem fosse. A mesma figura sem forma e translúcida que vira nas outras vezes, porém não estava sozinha, havia outras aparecendo por toda a sala, erguendo-se do chão como se fossem vapores transparentes escapando como gás saindo de uma provável tubulação sob o piso. Ângelo pensou que podia estar perdendo completamente a lucidez, mas tinha certeza de que não eram nem vapores nem gases, mas sim coisas vivas; elas se moviam de um lado para outro como se observassem o que estava se desenrolando naquela sala. Ele quase podia distinguir silhuetas humanas sendo formadas pelas animações transparentes, mas não chegaram a tanto, mantinham uma aparência disforme e constantemente mutante, nunca assumiam uma forma inteiramente legível e identificável.
Ângelo olhou ao redor na sala e contou cinco coisas daquelas. Era como num filme de terror onde pessoas comuns eram cercadas por espíritos ou fantasmas, pelo menos era assim que ele estava se sentindo, mas o pior era saber que ninguém mais ali estava vendo aquele fenômeno, todos estavam concentrados no invasor, Fausto, e sua arma nervosa prestes a disparar.
_O que está acontecendo aqui._ Perguntou em voz alta para si mesmo.
Todos os outros imaginaram que a pergunta tinha ligação com o evento em curso na sala e Fausto por sua vez respondeu sem perceber que a pergunta não fora direcionada a ele:
_Está acontecendo que eu tenho contas a acertar com todos vocês e já é hora de resolvermos essas pendências._ Enquanto respondia, a arma passeava de um lado para outro, ora apontando para uma vítima, ora para outra; qualquer movimento mais brusco podia ser o suficiente para que Fausto disparasse e causasse uma verdadeira tragédia. Àquela altura dos acontecimentos Patrícia e Heloi agradeciam a Deus pela filha estar em outro lugar e não ali. Porque pior do que se submeter a qualquer atrocidade que aquele psicopata pudesse querer impor, seria ver a pequena Ingrid sendo torturada de modo igualmente medonho e doentio, só a cena produzida pela imaginação dos pais já era o suficiente para amedrontá-los terrivelmente. Independente do que acontecesse, não revelariam o paradeiro da menina, nem sob tortura.
Os donos da casa se entreolharam de modo tímido como que selando o pacto de silêncio em relação a filha, os outros no local não chegaram a perceber aquele ato rápido e heróico visando a máxima proteção do bem mais precioso que eles tinham.
Fausto continuava falando:
_ Vai ser tudo muito simples_ sorria_ primeiro vamos aos negócios e em seguida passaremos para a diversão e o prazer._ olhou para Diana e Patrícia.
Ângelo notando o olhar do outro, moveu-se para a frente da namorada, ficando entre ela e o homem com a arma; em seguida segurou a mão de Diana, mantendo-a escondida de qualquer disparo acidental. O gesto foi repetido pelo dono da casa, mas com isso Mônica ficou completamente desprotegida, era a única com caminho livre na linha de tiro.
_Diga o que você quer comigo._ Ângelo sabia que havia algo ligando ele próprio ao psicopata e talvez fosse a mesma linha que o conectava aos sonhos, visões e vozes; talvez conseguisse até algumas respostas sobre toda aquela loucura.
_Se é dinheiro que você quer_ disse Heloi tentando uma solução para o que ele imaginava ser o problema_ Pode levar tudo o que desejar; não nos importamos, só deixe as mulheres em paz.
Fausto ia responder a Ângelo, mas quando ouviu o que Heloi tinha acabado de falar, teve um rompante de ira.
_ Você não entendeu nada ainda!_ gritou tão alto que as mulheres se assustaram com um sobressalto.
Diana apertava a mão do namorado, Patrícia segurava os ombros do marido e Mônica tremia visivelmente, completamente desprotegida. Ela parecia muito mais fragilizada do que quando entrara na casa, sua presença marcante e vistosa tinha se resumido a uma mulher amedrontada com os ombros curvados e o rosto deformado e envelhecido por sentimentos agressivos.
Fausto continuou com a gritaria:
_ Eu não quero seu dinheiro!
_Então o que você quer aqui? Não lhe fizemos nada.
A paciência de Fausto estava no limite, ainda mais porque sua carta inicial, a arma, que costumava estabelecer prontamente a relação de poder entre vítima e agressor parecia não estar fazendo o costumeiro efeito. Ninguém ali tinha chorado, implorado pela vida, ou perdido o controle de forma histérica, ele esperava aquela reação de pelo menos uma das mulheres, não podia supor que todas fossem pessoas tão fortes a ponto de mesmo sendo submetidas a uma ameaça potencialmente letal, ficassem aparentemente calmas.
Fausto sabia que em algum nível todos ali estavam sentindo exatamente o que ele desejava que sentissem, medo e terror, mas o fato de cada uma das pessoas estar conseguindo manter o autocontrole o incomodava e por isso ele resolveu aumentar um pouco mais a pressão.
Apontando a arma para Mônica ele disse:
_ Ajoelhe-se.
Os olhos de todos se arregalaram. Fausto repetiu a ordem.
Ângelo sabia que devia fazer alguma coisa ou teriam uma tragédia terrível; agora ele entendia exatamente o que sentira com relação a Mônica estar correndo perigo. Tinha de agir, mas como?
A tensão alcançou níveis estratosféricos naquela sala.
Fausto quase podia ouvir os batimentos de cada coração, todos trovejando como se fizessem parte da chuva que caia fora da casa. Porém, Mônica não havia se ajoelhado, ela olhava para ele com raiva nos olhos; também havia medo, mas estava misturado ao sentimento de incapacidade. A raiva que ela sentia era causada pelo que Fausto tinha feito ao irmão dela.
Ele se aproximou de Mônica o suficiente para a arma encostar na cabeça da mulher. Patrícia estremeceu por detrás do marido.
_ Eu mandei você se ajoelhar agora!_Ordenou.
Finalmente ela movimentou-se, ajoelhou devagar, sempre mantendo os olhos fixos nos de Fausto que apontava para ela. Mônica pensou em avançar sobre ele insanamente, sem se preocupar com o resultado, mas àquela distância não teria a menor chance de fazer qualquer coisa sem ser alvejada. A ira dentro dela era ainda maior naquele momento principalmente por sua incapacidade. Quando finalmente se ajoelhou cuspiu na roupa de Fausto num claro sinal de desprezo; acontecesse o que acontecesse ela já tinha decidido; não daria mais nenhuma satisfação àquele monstro.
A bofetada que Fausto desferiu sobre o rosto da mulher ajoelhada foi tão forte que ela perdeu os sentidos instantaneamente. Patrícia gritou e teve de ser contida pelo marido que viu a arma sendo apontada ora para eles, ora para o outro casal que também esboçou uma reação.
A cena foi tão violenta que finalmente conseguiu arrancar algumas lágrimas do rosto da prima de Mônica, mas também eram lágrimas de ódio; o som do golpe sobre os ossos da face da mulher foi seco e bruto.
_ Seu monstro! _Gritou Patrícia.
Mônica jazia desacordada no tapete da sala. O rosto exibia uma grande marca vermelha por causa da forte pancada.
Heloi tentou novamente uma mediação sem sucesso:
_Escute Ricardo, o que você está fazendo é loucura, seja lá o que for que você ache que Mônica fez para merecer isso; saiba que já está indo longe demais.
Balançando a cabeça em sinal positivo e constantemente apontando a arma ora para um casal, ora para outro, Fausto disse:
_ Já estou de saco cheio de você._ Apontou a arma para Heloi. Estava pronto para disparar quando Ângelo lhe chamou a atenção.
_ Ei! O que você tem pra mim?_ Disse. Estava tentando ganhar tempo para pensar em que fazer, e quando viu o outro apontar a arma para o dono da casa não pensou duas vezes; disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça._ Que proposta é essa que você mencionou?
Fausto se interrompeu; queria puxar o gatilho e mandar o dono da casa para o outro mundo de uma vez, assim teria caminho livre para fazer o que bem entendesse com a esposa, mas já que tinha conseguido prender a atenção do jovem especial, devia dizer algo, porém não sabia o quê.
Pensou que quando ficasse frente a frente com ele saberia o que falar, saberia que proposta fazer, mas as vozes em sua cabeça não diziam nada a esse respeito.
_ Não sei o que dizer_ Fausto balbuciou._ Não é o que eu esperava.
Naquele momento ele também começou a ver as formas translúcidas se movendo junto das paredes da sala, não sabia o que eram, mas tinha certeza absoluta que estavam ali por sua causa. Soube imediatamente que alguma antiga essência primordial com a qual ele mesmo tinha ligação, mesmo sem entender, estava inundando aquela sala e que logo apareceria por completo como um espírito do submundo atravessando aos poucos a barreira que separa a sua realidade etérea do mundo físico.
_Fausto!_ Chamou Ângelo_ O que você tem pra mim afinal?_ repetiu.
Pela primeira vez desde que se libertou completamente da prisão na mente de Ricardo, Fausto não soube o que falar. Ficou parado com a arma apontada para Ângelo olhando como se tentasse enxergar o interior do rapaz.
_ Fique quieto!_ Disse finalmente.
Ângelo começou a ter novamente a mesma visão que o outro; as movimentações dançantes e sem forma das coisas translúcidas. Naquele momento percebeu que o homem armado também as via e estava curioso ou confuso com aquele fenômeno.
_ O que está acontecendo, Fausto? Diga-nos._ Insistiu.
Fausto se enfureceu.
_ Eu já mandei calar essa boca!_ Gritou.
Todos ali olhavam para Ângelo como se ele tivesse as respostas do que estava ocorrendo; eles já tinham percebido que havia mais coisas acontecendo do que seus olhos estavam vendo.
Ângelo olhou para Diana e fez um sinal com a cabeça movendo-a levemente para mostrar que a namorada devia procurar abrigo, mas a moça não sabia como devia fazer isso.
Novamente tentando colocar um pouco de sanidade na situação, Heloi tentou se intrometer, tinha de fazer alguma coisa embora não soubesse bem o que, afinal; não ia ficar ali sendo ameaçado por um maluco armado que colocava também em perigo a sua esposa e seus amigos.
_ Ricardo_ chamou Heloi, sem perceber que cada vez que ele usava esse nome para chamar o outro, causava ainda mais furor no invasor_ Chega dessa palhaçada. Deixe as mulheres saírem e vamos resolver, seja lá o que for; que você tem contra minha família; como homens. Somos todos adultos aqui.
A voz sobrenatural finalmente falou no ouvido de Fausto:
_ Sacrifique-o! _ Soou como uma ordem e não como um pedido. Mas ainda não era aquela voz trovejante que ele já ouvira em outras ocasiões.
Imediatamente Fausto se virou deixando de apontar a arma para Ângelo e passando sua mira para o dono da casa. Fez aquele movimento de uma forma tão automática que nem pareceu ser uma pessoa dotada de vontade própria, mas sim um autômato, um sonâmbulo ou uma marionete macabra cujos fios que o movimentavam, presos aos braços e pernas eram tão finos que mal podiam ser vistos. Mas aquilo foi apenas uma sensação.
Ângelo ouviu claramente a voz ordenando a eliminação de Heloi e quando Fausto se virou para atirar, Ângelo se lançou contra o corpo do outro da forma mais impulsiva que conseguiu. Foi uma ação inconsequente e temerária que podia resultar em um terrível acidente não só para a sua própria vida como para a de todos os outros que estavam naquela sala.
_ Diana! Sai daqui!_gritou.
Seu corpo se chocou contra o de Fausto e Ângelo tentou segurar a arma apontando-a para cima, mas não foi capaz; Fausto se mexeu tão rápido que pareceu saber que seria atacado, mas Ângelo conseguiu segurar o braço dele. Ambos caíram sobre o sofá e rolaram para o chão. Imediatamente todos ouviram dois disparos que acertaram apenas o teto da casa, mas foi o suficiente para fazer com que tanto as mulheres quanto Heloi se arremessassem no chão buscando proteção.
Ângelo conseguiu desarmar o outro mais rápido do que pensou que seria capaz, mas logo notou que a atenção de Fausto não estava no confronto corpo a corpo que estavam travando e sim em algo sobre suas cabeças.
Mônica foi reanimada e ajudada a levantar pela prima e Diana correu para a porta que se fechou brutalmente bem na sua frente como se alguém ou alguma coisa tivesse puxado a porta pelo lado de fora. Diana segurou a maçaneta e tentou abrir a porta com toda a força que tinha, mas nada aconteceu, a porta parecia estar trancada.
Mônica e Diana chegaram desesperadas junto dela logo em seguida.
_ O que houve?_ perguntou a dona da casa.
_Abra a porta._ emendou_ a prima.
Diana só conseguiu responder que a porta não abria. As três puxaram com força, mas a porta não cedeu um milímetro sequer.
Heloi levou quase cinco segundos para verificar que não tinha sido alvejado por nenhum dos dois disparos; viu as mulheres correndo para a porta, e, atordoado percebeu que um confronto corpo a corpo estava se desenrolando entre Ricardo e Ângelo. Tinha de ajudar de alguma forma.
Fausto não ofereceu resistência naquele primeiro momento, algo muito grande estava para acontecer ali, havia sobre eles, pairando sob o teto da sala uma forma nebulosa e disforme que enchia toda a sala, como uma nuvem pulsante que se expandia a cada segundo e se revolvia em si mesma. Era um espetáculo bizarro, mas que estava prendendo por completo a força de vontade de Fausto.
Ângelo tomou-lhe a arma e se levantou respirando ofegante; olhava para o outro que continuava deitado observando o teto. Finalmente Ângelo levantou a visão e contemplou o mesmo fenômeno sem explicação.
_Mas o que é isso!_ Exclamou assustado. Estava vendo exatamente a mesma coisa que tinha vislumbrado na garagem da casa de Diana, só que numa proporção muito maior ali.
Heloi não via nada tampouco entendia o que estava se passando. Foi quando ouviram o chamado de Patrícia dizendo que a porta estava trancada e que não conseguiam abri-la. O marido correu para o lugar onde elas estavam deixando Fausto, que parecia em transe, deitado no chão da sala e Ângelo segurando a arma.
Heloi chegou até ela e como tinha mais força do que as mulheres, tentou abrir a porta segurando e puxando a maçaneta com toda a sua força; parou por um segundo e olhou a porta assustado, o que poderia estar mantendo aquela porta trancada daquela forma? Não sabia.
Encostou o ouvido nela na esperança de ouvir alguma coisa lá fora, mas não foi capaz de escutar nem um único ruído sequer, nem mesmo a chuva que caía e que antes tinha inundado a casa com seu som característico.
Nem Heloi, nem qualquer outra pessoa presente ali podia imaginar que do lado de fora da residência, sobre a casa, naquele exato momento o mesmo fenômeno que Fausto e Ângelo estavam presenciando na sala estava se repetindo numa proporção muito maior. E que por aquele motivo nenhum som entrava ou saia das paredes do imóvel; era como se toda a casa com seus ocupantes tivesse sido engolida ou mesmo arrastada repentinamente para uma zona de vácuo.
O pesadelo estava para se revelar.


(Ir para capítulo 13)

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